Do SundayTalk especial sobre a Itália, partimos para a Jamaica, endereço de um dos conjuntos de villas e hotéis mais sofisticados e, ao mesmo tempo, mais descontraídos da ilha: o Island Outpost. Se a história do Stefano Barbini cruzou caminhos sinuosos entre o mundo da moda até chegar à criação de seu lodge nas Dolomitas, a trajetória de Chris Blackwell também é inusitada, permeando notas musicais até chegar no aconchego do barulho do mar.

Entrevistamos, durante sua última passagem por São Paulo, Chris Blackwell, grande nome do mercado musical, empresário que descobriu Bob Marley e que hoje nos conta um pouco de sua estrada no mercado de turismo ao falar de seus hotéis na Jamaica onde Ian Fleming escreveu o famoso romance de James Bond.

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Como é sair da indústria musical para o ramo hoteleiro? Em outras palavras, música e turismo dá samba?

Na verdade música e turismo dão um ótimo reggae 😛

Mudar da música para a hotelaria foi como um crossfade, porque o primeiro contrato musical que assinei como produtor foi com uma banda que tocava num hotel na Jamaica. Na época, eu não sabia nada sobre como ser um produtor, mas queria gravá-los de qualquer jeito.

Quando você ama alguma coisa, acaba fazendo tudo certo e nossos primeiros discos foram um sucesso. Era a primeira vez que jamaicanos gravavam música pop.

Os discos começaram a ser vendidos mais na Inglaterra que na Jamaica e sempre que eu podia, comprava um terreno em algum lugar que achava que seria interessante para um pequeno e reservado resort, pois já tinha vontade de seguir esse caminho no futuro.

Quando a gravadora ficou muito grande, percebi que passava mais tempo gerenciando os negócios que participando do lado criativo, por isso resolvi vendê-la em 1989 e passei a me dedicar à hotelaria. Primeiro em South Beach em Miami, depois na Jamaica e Bahamas onde tenho hotéis até hoje.

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É difícil trabalhar com o mercado brasileiro? Existe alguma peculiaridade ou alguma exigência específica, ou, de maneira geral, o turista brasileiro é mais tranquilo?

Acredito que o problema seja a existência de muitos resorts all inclusive na Jamaica e países próximos, como República Dominicana ou Saint Barths, o que acaba chamando mais a atenção dos brasileiros.

O hotel segue uma proposta high end, mas sem aquele luxo pomposo de chão de mármore e torneiras de ouro. Nós acreditamos que o luxo está na simplicidade, ou seja, se você pode estar confortável com coisas simples, então isso é luxo.

Não é todo mundo que entende esse conceito, pois o novo rico normalmente pensa que, para ser luxuoso, é preciso ser pomposo, enquanto o que nós queremos oferecer é conforto com simplicidade.

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Você planeja algo especial para atrair os brasileiros? Vocês costumam se adaptar aos seus hóspedes, trazendo algo especial para o café da manhã, por exemplo?

A Jamaica tem uma culinária fantástica e nós queremos que nossos hóspedes experimentem isso. Infelizmente o governo não tem feito uma boa propaganda disso, já que ganham bastante dinheiro com os All Inclusive que, no final das contas, trazem toda sua comida empacotada da Flórida sem utilizarem os produtores locais, até porque o país é pequeno e a produção não daria conta de abastecer os grandes hotéis.

“É por isso que os pequenos hotéis como os nossos podem oferecer uma experiência mais autêntica, desde os músicos aos produtos regionais, buscando também entregar algo de volta à comunidade.”

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As viagens para renovação de votos entraram na moda no Brasil nos últimos anos. Vocês têm algum pacote ou surpresa especial para o casal que deseja celebrar esse momento na Jamaica?

Nós não promovemos isso no nosso hotel porque é algo que os grandes hotéis estão fazendo. As pequenas propriedades querem que seus hóspedes conheçam a propriedade, a comida e a hospitalidade local.

É claro que podemos receber casais que queiram renovar seus votos em nosso hotel, mas não é uma coisa que divulgamos, pois gostamos de manter tudo mais intimista e pessoal.

Sundaytalk - Hotel Island Outpost 5

Nos últimos anos, vivenciamos uma grande transformação no turismo por conta das redes sociais e dos sites de review como o TripAdvisor e Booking. Quais foram as grandes mudanças para você? É perceptível esse novo perfil de viajante chegando até seu hotel?

Eu vejo um hotel como um centro de energia e um teatro. Quando a propriedade é menor como a nossa, podemos escolher o tipo hóspede que gostaríamos de receber de forma que eles, ao gostarem da experiência, possam comentar com seus amigos, fazendo com que pessoas que tenham as mesmas características possam se hospedar conosco também.

Por conta disso, costumamos trabalhar mais com o boca a boca e a publicidade online.

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Sabemos que o hotel recebe muitas pessoas famosas e celebridades. Vocês têm problemas com paparazzis por causa disso?

Todo mundo hoje tem uma câmera e, portanto, todos são potenciais paparazzi, mas isso nunca foi um problema. Paparazzi no sentido clássico da palavra tivemos apenas uma vez, quando um deles pagou a um pescador para navegar próximo à praia para ele tirar fotos, mas isso não costuma acontecer.

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