Eles fizeram de novo… Os amigos Natalie e Fred, do Sundaycooks, me convidaram para representar o site em uma viagem pela República Tcheca. E eu, claro, novamente levei mais ou menos meio segundo para aceitar, ainda mais ao saber o tema da viagem, promovida pelo CzechTourism e pela KLM: um “tour da cerveja”. Ou seja, uma jornada por cervejarias, museus, bares e tudo mais que possa se relacionar com o néctar gelado. Vem comigo! 😀

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Um tour pelas cervejas da República Tcheca

Já conhecia Praga – que, de tão pródiga em atrações, prefiro deixar para o último texto desta série de quatro posts -, mas nunca tinha ido além dela e posso dizer: não deixe de visitar as cidades do interior do país, elas vão te surpreender tanto quanto a capital.

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Uma das minhas paradas foi Plzeň – ou Pilsen, como é mais conhecida mundo afora. Confesso que não sabia quase nada sobre o lugar, mas associava seu nome aos comerciais antigos de cerveja no Brasil, em que esse nome era fartamente citado.

Durante a visita, descobri por quê. Em Pilsen fica a cervejaria Urquell, fundada em 1842 e responsável pelo famoso tipo de cerveja chamada pílsener, e foi exatamente por aí que começou minha jornada após 1h15 de carro pela autoestrada desde Praga (de trem, a viagem leva 1h30 e custa € 17).

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Uma visita à fábrica da Pilsner Urquell

A visita à fábrica da Pilsner Urquell é muito interessante e ajuda a entender a história da cerveja em si (duração: 1h30 | valor: 200 coroas tchecas ou +- R$30). O tour começa com um pequeno museu, que conta como surgiu essa variedade de cerveja no século 19.

Você sabia que em 1842, havia 289 pequenas fabricas de cerveja na cidade? Pois é, eu também não. Era uma cervejaria para cada 80 habitantes!

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Só que a qualidade não acompanhava a quantidade e foi preciso convocar um especialista estrangeiro, o bávaro Josef Groll, para dar um jeito. Ele estudou a produção caseira local, propôs mudanças e a unificação do jeito de fazer cerveja na cidadezinha de 20 mil habitantes.

Deu no que deu: uma das mais refrescantes e saborosas cervejas do planeta.

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Na visita pela Urquell, aprende-se como ela é feita e seus segredos, como a baixa fermentação, o uso exclusivo do nobre lúpulo local chamado Saaz, do malte tcheco puro e da peculiar água de poços artesianos da própria cidade, que é bastante “suave” devido à sua composição com minerais na medida certa.

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O mais bacana é que a exposição histórica é muito bem bolada, chegando a parecer uma galeria de arte, vez por outra, de tão bonita. Não é à toa que mais de 750 mil pessoas visitam a fábrica centenária por ano (para efeitos de comparação, isso é equivalente a mais da metade do número de turistas que visitam o Rio de janeiro anualmente).

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O passeio continua pela antiquíssima torre de extração de água do subsolo (que lembra um farol marítimo), pela linha de produção contemporânea e pela incrível cave subterrânea – nada menos que 9 km (sim, você leu direit, quilômetros) de túneis em que a cerveja era armazenada no passado, todos sempre a uma temperatura constante abaixo de 10ºC. Fique tranquilo, você não precisa andar os nove quilômetros, pois a visita é só por uns 600 metros.

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No final, lojinha! E aqui vai uma dica de ouro para quem quiser reproduzir esse tour etílico: leve para a República Tcheca uma mala hard case, muito plástico bolha e fita adesiva – porque você não vai querer sair de lá sem uma porção de garrafas na bagagem 😀

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Onde comer em Pilsen?

O tour pela Urquell levou quase a manhã toda e o passo seguinte foi caminhar da fábrica até o icônico restaurante Na Parkánu. No caminho, uma mostra de quão agradável é essa cidade de 160 mil habitantes.

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Para chegar ao centro histórico, onde fica o restaurante, caminha-se durante 15 minutos por uma região arborizada, cortada pelo Rio Radbuza e onde a maior construção é a Doosan Arena, estádio onde joga o bravo FC Viktoria Plzeň – que se sagrou campeão tcheco de futebol de 2016 exatamente no dia de minha visita!

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Por isso mesmo, a cidade estava em clima festivo e cheia de torcedores paramentados, inclusive no Restaurante Na Parkánu, onde ao meu lado degustavam pílseners e mais pílseneres.

Eu preferi ir com calma na cerveja e aproveitar mais os petiscos. Vale lembrar que Pilsen fica muito perto da Alemanha e, como no país vizinho, ali existe grande tradição de fabricação e consumo de embutidos. Salsichas, salsichões, salames… tudo acompanhado de bons queijos locais, pães escuros e pesados e conservas, muitas conservas. Eu, particularmente, nunca esquecerei as pimentas e pimentões do Na Parkánu – sem exagero, as melhores conservas que já comi na vida.

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O que fazer em Pilsen?

Cumprida a árdua tarefa de saciar o estômago, parti para uma atração peculiar de Pilsen: o Patton Memorial, um museu dedicado a um general… dos Estados Unidos!

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“Como assim, Mancha?”, você deve estar perguntando. Calma, tem lógica e razão de ser. A questão é que, nos estertores da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, a então Tchecoslováquia sangrava nas mãos das tropas nazistas. Resumindo muito a história (e que os fãs do tema me perdoem por isso), os acordos feitos por soviéticos, americanos e ingleses para a divisão de áreas de influência no pós-guerra causavam um efeito bizarro antes mesmo de o conflito terminar: obrigaram as tropas dos EUA a se manterem paradas na fronteira do país, enquanto os nazistas saqueavam tudo o que podiam antes de sua inevitável fuga.

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Felizmente para eles, um general americano desobedeceu às ordens superiores e decidiu libertar Pilsen, expulsando as tropas alemãs. Seu nome era George Patton – o mesmo que inspirou o filme homônimo de Hollywood vencedor do Oscar de 1970.

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É por esse motivo que há um museu inteiro dedicado aos momentos finais da Segunda Guerra (entrada de 60 CZK, mais ou menos R$ 10), assim como uma grande comemoração anual na Semana da Libertação (a primeira de maio), com direito a muitos aviões antigos nos céus, desfiles de veteranos, tanques, jipes, flores, celebridades, políticos americanos de primeiro escalão, discursos, lágrimas, sorrisos e, claro, cerveja.

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Grande Sinagoga

A história de Pilsen, contudo, é bem mais antiga que a Segunda Guerra Mundial. Saindo do memorial, passei a percorrer o centro histórico, onde diversas construções chamam a atenção, a começar pela Grande Sinagoga, que faz jus ao nome e é a segunda maior da Europa, perdendo em tamanho apenas para outra de Budapeste, na Hungria.

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Inaugurada em 1892, ela foi desenhada em estilo mourisco-românico, com paredes e torres em um tom salmão chamativo, que cria um contraste único à tarde, quando o sol se põe por trás do templo.

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E uma curiosidade: ela tem uma acústica tão boa que desde os tempos do comunismo se tornou também um local de apresentações de música erudita, fato que permite o uso frequente de seu gigantesco órgão pneumático. A visita ao interior custa 60 CZK (R$ 10).

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Catedral de São Bartolomeu

Competindo em tamanho com a Sinagoga, logo surge na paisagem a imponente Catedral de São Bartolomeu, localizada no coração da cidade, na Praça da República (Republik Namesti).

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Essa é, sem dúvida, a atração mais vistosa do centro histórico, uma espécie de “marco-zero” de Pilsen. Erguida no ano 1295, seu exterior gótico e sombrio contrasta com o interior mais eclético, onde há desde uma galeria de arte até um altar em estilo art nouveau.

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As duas atrações mais requisitadas pelos turistas no interior da Catedral são a estátua da Virgem Maria, do século XIV, considerada um dos mais importantes patrimônios artístico-religiosos da República Tcheca, e o mirante da torre, ao qual se acessa após uma “leve” escadaria de 301 degraus. Ali, a 103 metros de altura, dá para ver toda a cidade, assim como os arredores verdejantes e, quando a meteorologia permite – até mesmo as montanhas do Parque Nacional de Sumava, a 70 km de distância, na fronteira com a Alemanha.

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Outras atrações

Em volta da catedral, a Praça da República oferece ainda curiosidades como o Museu dos Fantasmas (Muzeum Strasidel, em um antigo hotel mal-assombrado) ou o Museu das Marionetes – uma tradição tcheca.

Isso para não falar em outras construções de rara beleza como a Câmara Municipal (Renesanční radnice), um prédio em estilo renascentista, projetado pelo arquiteto italiano Giovanni de Statia e inaugurado em 1558. Eu passei pelo menos uns 20 minutos só me deliciando com os afrescos da fachada, que representam os governantes tchecos desde tempos antigos.

Ah! Você sabia que Pilsen foi capital do Sacro Império Romano-Germânico? Pois é! Foi por pouco tempo, somente durante o ano de 1599, mas foi!

O Museu da Cerveja de Pilsen

Minha passagem por Pilsen começou com cerveja e não poderia terminar de outra forma. Após um dia todo curtindo o centro histórico, caminhei em meio à fanática torcida do Viktoria Pilsen, que lotava os bares antes do jogo decisivo, e fui parar no Museu da Cerveja (Pivovarské Muzeum).

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Os habitantes locais e guias de turismo costumam dizer que é “o único museu do tipo no mundo , por estar localizado em uma casa original do século XV, onde realmente se fabricava cerveja. Um certo exagero, já que em outros lugares da própria República Tcheca há coisa parecida. De qualquer forma, o acervo é muito bacana, começando com a história da cerveja ainda nos tempos dos faraós do Egito antigo e vindo até os dias de hoje.

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Eu pirei na batatinha (desculpem o paulistanês) com a maquete de uma indústria que realmente funciona, assim como a coleção de garrafas antigas de porcelana, que nem sequer parecem garrafas, de tão caprichadas e ornamentadas que são.

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E um detalhe: além da visita comum, que custa 60 coroas (cerca de R$ 10), há tours guiados, com ou sem degustação, e até mesmo um passeio pelos subterrâneos medievais, onde a cerveja era estocada para ficar sempre geladinha.

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Tudo muito bem feito e organizado, afinal, quando se trata de cerveja, os tchecos não estão para brincadeira :mrgreen:

Aguarde os próximos posts, em que contarei as experiências na chiquérrima Karlovy Vary, na medieval Cesky Krumlov e na irresistível Praga. Na Zdravi!!! (Saúde!)

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Paulo Mancha D’Amaro

[one_half]Paulo Mancha D'Amaro[/one_half]
[one_half_last]É jornalista e comentarista esportivo dos canais ESPN. Foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 30 reportagens internacionais e ganhou em duas ocasiões o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Dirige o blog Viajando Por Esporte.[/one_half_last]

Paulo Mancha viajou pela República Tcheca a convite do CzechTourism e da KLM.