O Mali esteve em evidência na semana passada, com todos os grandes jornais abrindo espaço para falar do país africano. Porém, infelizmente, os motivos para essa atenção toda não foram nem um pouco bons.
Não vou entrar em detalhes sobre o que está acontecendo por lá desde o início de 2012 e que envolve golpe de estado, intervenção militar estrangeira, extremistas religiosos e Al Qaeda. Sobre isso, você pode ler aqui, aqui e aqui.
O assunto deste post é outro. É mostrar um pouco (apenas um pouco!) do que todos nós perdemos com mais esse conflito no mundo.
A República do Mali
O Mali fica no oeste da África, cercado por Argélia, Níger, Burkina-Fasso, Costa do Marfim, Guiné, Senegal e Mauritânia. Ele não tem acesso ao mar e é cortado pelo Sahel, a “linha climática” que separa a África desértica (ao norte) da África fértil (ao sul).
Entre os anos 1000 e o século 18, parte dessa área toda era conhecida como Império Mali, um estado que dominou o comércio local durante um bom tempo e foi um grande centro de matemática, astronomia, literatura e arte. Foi do antigo Império Mali que nasceu o nome atual do país, provavelmente inspirado em um povo que vive na região até hoje, os malinka.
A bandeira do Mali tem as cores verde, amarelo e vermelho, cada uma com aqueles significados normais de bandeiras (natureza, ouro, sangue e tal). Aparentemente, é apenas mais um estandarte tricolor no mundo, mas ela tem uma curiosidade: é idêntica à bandeira da vizinha Guiné, apenas com as cores invertidas.
Mali:
Guiné:
Feita essa apresentação rápida, vamos ao que o post se propõe: o que estamos perdendo no Mali?
1) Timbuctu
Uma das cidades mais míticas do mundo.
O ícone do lugar perdido no meio do nada e longe de tudo.
No auge do Império Mali, Timbuctu era uma das cidades mais importantes no comércio entre a África e a Europa, o que deu a ela riqueza e a fama de lugar distante e inacessível, por ser a última parada da rota entre os dois continentes.
Na época, a cidade também era um dos maiores centros de estudos islâmicos e de difusão da religião no mundo inteiro. A universidade Sankoré e as mesquitas Sankoré, Djinguereber e Sidi Yahya, construídas naquele tempo, estão lá até hoje e ajudaram a cidade a entrar na lista de patrimônios da humanidade, da Unesco.
A história triste é que Timbuctu já estava em perigo antes mesmo dos conflitos atuais e, em 2012, voltou para lista de patrimônios ameaçados, da mesma Unesco, onde ela já já havia estado entre 1999 e 2005.
Como se possíveis bombardeios, loucuras extremistas e o isolamento do país já não fossem dores de cabeça suficientes, essa cidade de história fantástica ainda tem que lutar contra o deserto, o crescimento da sua população e mais uma montanha de ameaças.
2) A Grande Mesquita de Djenné
Essa mesquita, que fica na cidade de Djenné e foi terminada em 1907, é nada menos que a maior construção de adobe do mundo.
Ela tem capacidade para 3 mil pessoas e é considerada um dos melhores exemplos da arquitetura islâmica da região logo abaixo do Sahel. Dizem que suas paredes grossas conseguem evitar que o calor africano entre no salão de orações.
3) A cidade de Djenné
O Lonely Planet diz que a cidade de Djenné merece “todo o tempo que você puder dedicar” a ela. É uma informação forte, mas eu acredito. Djenné é uma das cidades mais antigas da África abaixo do Saara e, assim como Timbuctu, foi um ponto importante da rota de comércio entre o continente e a Europa.
Ela também está na lista de patrimônios da humanidade, da Unesco, junto com 4 lugares ao seu redor: os sítios arqueológicos de Djenné-Djeno, Hambarkétolo, Kaniana e Tonomba.
Segundo a descrição da Unesco, “a estrutura antiga de Djenné é um exemplo extraordinário de um conjunto arquitetônico que ilustra um período importante da história”.
A história desse festival é bem recente. Ele nasceu em 2001, inspirado na paixão dos malineses pela música e em uma tradição tuaregue de fazer encontros musicais.
Ao longo do tempo, o “festival mais remoto do mundo” – onde só se chega em veículos 4X4 ou de camelo – começou a atrair músicos e público estrangeiros e hoje é um dos eventos mais importantes para a cultura nacional, famosa pela música.
Ele acontecia todos os anos na cidade de Essakane, mas as ameaças à segurança fizeram ele ser mudado para Timbuctu. Em 2013, ele vai ter que acontecer fora do país, na vizinha Mauritânia.
Como mostrou essa matéria do Estadão, as ameaças ao Festival no Deserto e a todos os músicos malineses são bem reais.
5) O País Dogon e toda a sua cultura
Os dogons são um povo que vive em uma região bem no centro do Mali. Eles estão espalhados em várias aldeias próximas às falésias de Bandiagara, formando uma área chamada de País Dogon.
Pelo menos desde o século 15, os dogons vêm resistindo a invasores graças à localização e ao estilo das suas casas, que ficam nas encostas das falésias, com acesso difícil e com essa cor de terra que se muitas vezes se confunde com as paredes naturais atrás delas, fazendo com que algumas aldeias seja praticamente invisíveis à distância.
Toda a região é considerada Patrimônio da Humanidade, pelas características históricas, culturais, arquitetônicas e naturais.
Os dogons são apenas o mais famoso dos povos que vivem no Mali. Além deles, também existem os bambara, os soninke, os khassonké, os malinka e um mundaréu de outros grupos e subgrupos étnicos, cada um com sua história, sua cultura e sua arte.
Askia Mohammad I foi o líder mais importante do Império Songhai, que existiu na região junto com o Império Mali. Sua tumba foi construída em 1495, logo depois dele oficializar o islamismo como a religião do seu estado.
Hoje ela é considerada um dos vestígios mais importantes do Império Songhai e um dos melhores exemplos da arquitetura tradicional da região abaixo do Sahel. Também esta na lista de patrimônios da humanidade, da Unesco.
8) Bamako
Sobre a capital do país, o Lonely Planet diz: “se você procura tranquilidade, fuja de Bamako”.
E continua logo em seguida: “Mas se você gosta de mercados multicoloridos e espalhados pelas ruas, se você aprecia a vida noturna e está louco por uma oportunidade de conversar com moradores abertos e simpáticos, Bamako vai conquistar você.”
Olha, acho que já me conquistou.
• Veja onde se hospedar em Bamako •
Além das festas, dos mercados e da população queridona, Bamako tem nada menos que um dos melhores museus de etnografia e arqueologia da África. E no meio de objetos culturais e de arte, a maior atração são os instrumentos musicais do país. Dizem que a coleção é completíssima.
10) O maior passeio pelo rio Níger
O Níger é o rio mais importante da África ocidental. Ele nasce em Guiné e corre para dentro do continente, entrando no Mali, fazendo uma curva ali pela altura de Timbuctu, seguindo para o Níger, para fronteira com Benin e entrando logo depois na Nigéria, onde se acaba no mar, no Golfo de Guiné.
De todo esse trajeto, a maior parte passa por dentro do Mali, o que faz do Níger o rio mais importante do país também.
Um passeio por ele é praticamente uma atração obrigatória para quem visita o Mali. Tomara que não demore para que ele volte a ser possível para todos nós.
(Se você é leitor assíduo do blog, deve ter percebido que esse post tem a estrutura idêntica ao Por Que Pra Lá?. E esta foi justamente a minha intenção. Se tudo correr bem, um dia eu vou atualizar este post, incluindo ele na série. Mas, por enquanto, o título fica assim mesmo. Infelizmente.)
Comentários
Gabriel, amei esse post. Eu tenho acompanhado as notícias e sempre fico tocada com essas situações. Muito bom saber que Mali tem tanta coisa linda. Me conquistou definitivamente.
Tchê,
já viste este link?
http://oglobo.globo.com/cultura/documentario-mapeia-musica-do-mali-7405146
Um amigão meu acabou de voltar de lá. Ele é o Rafael Tudesco, citado na matéria. Se quiseres, por acaso, bater um papo com ele sobre Mali, coloco vcs em contato.
Abraço,
Gullo
Tchê,
já viste este link?
http://oglobo.globo.com/cultura/documentario-mapeia-musica-do-mali-7405146
Um amigão meu acabou de voltar de lá. Ele é o Rafael Tudesco, citado na matéria. Se quiseres, por acaso, bater um papo com ele sobre Mali, coloco vcs em contato.
Abraço,
Gullo
estou a procura do nome mali, como surgiu de onde foi retirado este nome sou espiritualista e este foi dado a um simbolo que tem no final mali caso tenha algo a gradeço.
Jorge, segundo o livro A Origem dos Nomes dos Países, o nome “Mali” pode ser a palavra para definir “hipopótamo”, em uma língua de lá, ou é uma derivação do nome de um povo que vive na região até hoje, os malinka.
Gabriel, acabei de ler o livro sobre Mali no meu projeto de leitura e fiquei fascinada pela cultura do país. As fotos no final do livro (Amkoullel, o menino fula) e uma rápida pesquisa no google me deixaram morrendo de vontade de ver tudo de perto. E eu vim aqui sabendo que encontraria mais informações! Infelizmente ainda não é uma boa hora para pensar em uma viagem para lá. Vamos torcer para que você possa atualizar o título do post logo, logo! 😉
Que legal, Camila! Mali é outro sonho aqui. Já pensou? Pisar em Timbuctu? =)
Muito bom cara tive que fazer um trabalho sobre esse país e seu post me ajudou muto