Finalmente o Planetóvski Rússia dá um tempo no Norte do Cáucaso e volta para um lugar visitável da Putinlândia.
Bem-vindo à República da Calmúquia, a terra dos calmucos. Ou, na língua local, “aqueles que ficaram”.
Onde eles ficaram? Não tenho certeza, não encontrei respostas diretas na internet, mas imagino que o tal lugar seja onde eles estão hoje, na beira do mar Cáspio.
Os calmucos (em inglês: Kalmyks) são um povo descendente dos mongois. Eles saíram do sul da Sibéria fugindo de brigas com outros mongois e acabaram encontrando novas brigas com czares, nazistas, comunistas e soviéticos até que, enfim, puderam se aquietar no canto deles.
Por causa de todas estas batalhas, muitos calmuques foram embora definitivamente e se estabeleceram em várias partes do mundo.
Os que ficaram (de novo) acabaram formando uma república com uma característica interessantíssima e que eu duvido que você soubesse até este momento: a Calmúquia é a única região da Europa onde o budismo tibetano é a religião oficial e dominante.
Gostou? Tem mais. O líder espiritual budista regional nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos. Depois de ser reconhecido por Dalai Lama como a reencarnação de um “santo” budista, Telo Tulku Rinpoche (abaixo) passou a viver entre o estado americano do Colorado e Elista, a capital calmuca.
Para deixar tudo isso ainda mais interessante, os zen-calmucos também resolveram ser cabeções. Ou melhor, um ex-presidente deles inventou que todos seriam.
Entre 1993 e 2010, a república foi governada por Kirsan Ilyumzhinov, um milionário que, desde 1995, também é presidente da Federação Internacional de Xadrez (e em junho apareceu jogando com Kadafi, em plena revolução líbia).
Por causa da sua paixão pelo tabuleiro, Kirsan obrigou o ensino do jogo em todas as escolas de lá, transformando a república em uma espécie de meca do xadrez mundial.
E agora o xeque-mate turístico da Calmúquia: é lá, em uma área considerada “reserva da biosfera” pela Unesco, que fica um dos últimos lugares do mundo onde se encontra o antílope saiga, um bicho estranho, com um focinho que parece uma tromba e que está à beira da extinção.
Em resumo, a Calmúquia é uma república euro-russa-mongol budista, liderada espiritualmente por um americano, habitada por enxadristas, onde vive um bicho raro.
Dá para entender porque os calmuques ficaram.
Comentários
Uau, mais uma belissima aula sobre paises que eu nunca tinha ouvido falar….Fiquei de queixo caido ao saber que Calmúquia é budista.
Uma excelente semana!
Texto sobre turismo é isso: objetivo, curioso, interessante, com boas fotos e uma pitada de humor. Tem que deixar a gente com uma vontade louca de conhecer o lugar, de ir lá tirar muuuitas fotos e contar pros amigos. Seus textos são ótimos Gabriel e adorei “viajar” com vc pela Rússia. Já recomendei no meu Face rsrs Sucesso na sua carreira!!!!
Obrigado, Luciana! =)