No post anterior, caro leitor do Sundaycooks, você viu a primeira parte da minha road trip pela Califórnia. Agora, vamos à segunda parte, com as paisagens de Big Sur.
Saímos de Carmel em uma manhã nublada e seguimos para o sul pela rodovia California State Route 1, torcendo para o tempo abrir. Afinal, em poucos minutos chegaríamos à região de Big Sur, que, conforme haviam dito a mim, era o ponto alto cênico da viagem.
Verdade seja dita, minha única referência desse lugar era uma introspectiva canção dos Red Hot Chili Peppers, batizada coincidentemente de “Road Tripping“. E, logo nos primeiros relances, entendi o que inspirou os rapazes da banda a compor uma música tão intensa.
Música para ouvir enquanto lê este post: Road Tripping – Red Hot Chilli Peppers.
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A famosa Big Sur
Big Sur é um convite a refletir sobre o que há de bonito na vida. Cenários dramáticos, repletos de penhascos, falésias, montanhas e pontes majestosas, com a praia e mar lá embaixo, como que inatingíveis. São 140 quilômetros de estrada com o Pacífico de um lado e as Santa Lucia Mountains do outro. Tudo muito rústico, intocado e selvagem.
O nome Big Sur vem do espanhol e quer dizer “Grande Sul”, porque era assim que os habitantes de Monterey chamavam essa região tão bela quanto inóspita nos tempos da colonização.
Reduto de famosos em busca de sossego
Os rapazes do Red Hot Chilli Peppers não foram os primeiros a se inspirar nesse recanto isolado para fazer sua arte. Big Sur está presente nas obras de escritores como Jack Kerouac e Henry Miller, assim como de poetas como Robinson Jeffers e fotógrafos de renome como Edward Weston.
Por sinal, o diretor de cinema Orson Welles e a atriz Rita Hayworth foram alguns dos famosos que, ao longo da vida, decidiram trocar o frenesi de Hollywood e Beverly Hills por uma pequena cabana debruçada sobre o mar em Big Sur – sem vizinhos, sem lojas, sem ninguém ao redor, exceto pelos road trippers que passam pela estrada desde que ela foi inaugurada, em 1937.
Impossível não parar o carro pelo menos umas dez vezes ao longo do percurso para fotografar o panorama e muitas das 33 pontes erguidas na década de 30.
A maior delas, e que mais chama a atenção, é a Bixby Bridge, declarada patrimônio arquitetônico do Estados Unidos graças a seu arco elevado com quase cem metros de altura, fincado sobre a rocha de uma pequena baía.
Ali, sentado à beira do desfiladeiro sobre o qual cruza a ponte, tive o momento de maior paz e contemplação da viagem. E eu não fui o único. Bem ao lado, uma pequena van, bem ao estilo hippie, chamava a atenção com um violonista criando a trilha sonora para os viajantes. Mais à frente, um saxofonista. E, lá embaixo, o mar quebrando nas pedras.
Big Sur convida à sinestesia…
Continuamos e, de vez em quando, à beira do caminho, despontava alguma pequena e colorida parada, com lanchonetes, toaletes e alguma minúscula pousadinha. Sempre, com um charme especial, como o antigo ônibus convertido em cafeteria, que encontrei 15 km ao sul da Bixby Bridge. Ao lado dele, fica o Big Sur River Inn, um lodge na medida para quem quer passar um tempinho em meio à natureza.
Elefantes e castelos à frente!
Elephant Seal Vista Point
Big Sur tem fim. Seu limite é um pequeno riacho que dá no mar, chamado San Carpoforo Creek, 140 km ao sul de Carmel, onde havíamos iniciado a jornada. Mas isso não significa que as paisagens bacanas desapareçam a partir daí. Elas mudam: em vez de montanhas e penhascos, despontam praias – muitas delas adotadas como lar por leões e elefantes marinhos.
Paramos num desses santuários, chamado Elephant Seal Vista Point, na reserva natural de Piedras Blancas. A imagem é impressionante: milhares de elefantes marinhos preguiçosamente banhando-se ao sol nas areias e pedras. E claro, centenas e centenas de turistas admirando a bicharada.
Tudo isso de longe, por três motivos que convém saber: primeiro, porque é proibido se aproximar dos animais. Segundo, porque eles podem parecer mansinhos, mas mordem – e com força! E, finalmente, porque você não conseguirá suportar o cheiro. Sim, os elefantes marinhos não são lá os bichos mais perfumados do mundo. Aos milhares, então…
Hearst Castle
Nessa parte do roteiro, o clima de isolamento já sumiu e, ainda que não exista nenhuma cidade grande por perto, brotam aqui e acolá pequenas vilazinhas, condomínios e pontos de parada para viajantes.
A maior atração nestas paragens é o Hearst Castle, a enorme mansão no alto de uma montanha, que pertenceu ao magnata das comunicações Wiliam Randolf Hearst.
Erguido entre 1919 e 1937, o lugar é, na verdade, um complexo de construções de diversos estilos arquitetônicos, onde o milionário que inspirou o filme Cidadão Kane guardou milhões de dólares em obras de arte a antiguidades ao longo de sua vida.
Ofertas de hotéis próximas ao Hearst Castle
Ele também deu festas generosas ao longo das décadas, para convidados como Greta Garbo, Joan Crawford, Charlie Chaplin, Charles Lindbergh, Clark Gable, Cary Grant, James Stewart, Bob Hope, e até o presidente americano Franklin Roosevelt.
Declarado patrimônio histórico e cultural dos Estados Unidos, o Hearst Castle hoje em dia funciona como museu, com ingresso a 25 dólares.
Nas suas imediações, achamos outra das pequenas pérolas que só os americanos conseguem criar. Que tal uma lanchonete despojada, que faz hambúrgueres gigantes, para você comer em mesas rústicas ao ar livre, e, ao mesmo tempo, proporciona degustações e vende alguns dos melhores vinhos da Califórnia?
Parece estranho, mas a Hearst Ranch Winery é exatamente essa pitoresca mistura de “junk” com “cult”. Almoçamos por ali e posso dizer que o “bacon avocado swiss cheese burger” (US$ 10) foi um dos mais deliciosos sanduíches que já comi na terra do Tio Sam. E viva o abacate!
Confira os outros posts dessa série:
Nos vemos em San Luis Obispo 🙂
Paulo Mancha D’Amaro
É jornalista e comentarista esportivo dos canais ESPN. Foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 30 reportagens internacionais e ganhou em duas ocasiões o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Dirige o blog Viajando Por Esporte.
Paulo Mancha viajou pela Califórnia a convite do Turismo da Califórnia.
Que viagem linda! Amo e não canso de repetir este trajeto.
Uma parada linda e que senti falta no relato é o Julia Pfeiffer Burns State Park onde fica a Mc Way falls, uma cachoeira que desagua na praia. Super bonito.
Pra quem fizer o trajeto com calma, a Pfeiffer beach e a Sand Dollar beach tbm valem a parada.
Um pouquinho a diante de San Simeon, há duas paradas menos conhecidas, mas que valem super a pena: Morro Bay e Cambria.
Beijos,
Mari
O Paulo mandou super bem nesse roteiro, né Mari?
Fiquei ainda mais com vontade de passar um tempão viajando pela Califórnia.
Quem sabe a gente não repete essa viagem juntas? 😀
Olá muito grata por compartilhar sua viagem, voce sabe se é possivel fazer de Motorhome esta viagem pela costa? ou é muito estreita a estrada?
Oi ana. Uma coisa que não é estreita nos EUA são as estradas 😛 Pode ir tranquila que essa rota é muito comum para motorhomes.