Roteiro de Nova York para mulheres lésbicas, bissexuais e LGBTQIA+s

Nova York é conhecida como um dos destinos mais vibrantes para os turistas LGBTs e foi palco de um acontecimento que marcou a história do movimento como um todo. Mas e as mulheres que se relacionam com outras mulheres? O que será que buscam quando visitam esse destino? Com a missão de montar um roteiro de Nova York para mulheres lésbicas e LGBTs, passei uma semana na cidade deixando meu Google Maps e meu bloco de anotações ainda mais cheio de arco-íris.

Breve história do movimento lésbico em Nova York

Alguns relatos apontam que a história do movimento lésbico em NY retoma os anos de 1880 e passa até pela Segunda Guerra Mundial, mas ele começou a ganhar forças em 1960 quando outros grupos chamados, na época, de “organizações de contracultura” como o feminismo também começaram a tomar formas.

E foi logo em 28 de junho de 1969 que aconteceu o levante que ficou conhecido como a Rebelião de Stonewall: uma revolta de homens gays, mulheres trans, mulheres butch e lésbicas da classe trabalhadora contra o assédio policial.

Mas o que pouca gente sabe é que o estopim se deu depois que a lésbica e drag king, Stormé DeLarverie foi agredida por policiais e, ao revidar, convocou todos que ali estavam para protestar. Ela já era uma figura emblemática para o movimento pois, além de ser uma artista performer, fazia cross-dressing numa época que era ilegal e as pessoas poderiam ser presas apenas por não vestirem roupas apropriadas de acordo com seu gênero. Muitos a consideram a Rosa Parks da comunidade LGBT, numa menção à ativista do movimento civil negro que recusou ceder seu lugar num ônibus na cidade de Montgomery para uma passageira branca.

Logo em 1970, aconteceu a primeira Parada do Orgulho Gay em West Village e foi liderada por uma mulher bissexual chamada Breda Haward (na época foi denominada de “primeiro aniversário da Revolta de Stonewall”. A parada saiu da Livraria Oscar Wilde. E aqui a gente já percebe que as mulheres encabeçaram momentos marcantes da história do movimento LGBT em Nova York.

E aos poucos, a comunidade começou a se mobilizar em grupos sociais e culturais e assim nasceu Lesbian Herstory Archives, mas falo sobre sobre a importância desse espaço mais tarde.

É uma tarefa quase que impossível resumir em poucos parágrafos décadas de lutas de mulheres que enfrentaram uma sociedade fechada, uma epidemia de AIDS, tanta desinformação e ainda tiveram forças para ressignificar espaços e construir uma base sólida para que gerações futuras pudessem se sentir mais seguras para viver em sua plenitude, mesmo que elas ainda precisem lutar diariamente contra um punhado de preconceitos.

Atrações e passeios para mulheres lésbicas e LGBTs em Nova York

A região de West Village e Greenwich Village é considerada o coração da vida queer em Manhattan e da luta pelos direitos civis da comunidade LGBT. É lá que ficam o bar Stonewall Inn – o epicentro da revolta de mesmo nome – e que funciona até hoje; o Christopher Park – que já faz parte dos Parques Nacionais dos Estados Unidos e é uma área de preservação histórica exatamente por conta da revolta que aconteceu nesse lugar e os dois bares lésbicos mais tradicionais de Nova York: Cubbyhole e Henrietta Hudson.

Já o East Village e o Chelsea concentram lojas criativas, restaurantes charmosos e todos aqueles cenários de série que já estamos tão familiarizados que nos sentimos de casa, principalmente quando começamos a caminhar pelo High Line.

No Soho fica o Leslie-Lohman Museum of Art, um centro cultural que visa preservar a memória de artistas LGBTs. As exposições são temporárias e sempre trazem conversas sobre o universo da arte e direitos civis. Esse espaço foi inaugurado em 1960, quando Fritz Lohman e Charles Leslie exibiam trabalhos de artistas gays em sua casa. Eles seguiram com esse projeto pelas décadas de 1970 e 1980 e, com o avanço da AIDS, criaram uma fundação que pudesse trabalhar pela conservação das obras de artistas da comunidade LGBT. O espaço é pequeno, mas as obras ali expostas são do tamanho do nosso mundo.

E por falar em museus, nos próximos anos devemos dar as boas-vindas ao primeiro museu norte-americano dedicado à história da comunidade LGBTQIA+. O American LGBTQ+ Museum será construído na Sociedade Histórica de Nova York, no Central Park West, e as obras já devem começar em 2023.

Cruzando a ponte para o Brooklyn, o bairro simpático e cheio de prédios históricos chamado Park Slope abriga a Parada do Orgulho que tradicionalmente acontece antes da Pride de Manhattan. Dizem que essa região é a que mais concentra muitos casais do mesmo sexo de toda Nova York. Se o censo do IBGE passou por lá, não tenho certeza, mas que encheu meu coração de amor ver o parque lotado de famílias de todos os jeitos brincando com suas crianças enquanto esperavam a parada começar, isso não posso negar.

Williamsburg também vale a visita, ainda mais por ser considerado o bairro mais hipster-criativo da região.

Não dá para terminar um roteiro pelo Brooklyn sem destacar o papel importante do Lesbian Herstory Archives. Essa biblioteca abriga a maior coleção do mundo de livros e todo tipo de material sobre a comunidade lésbica. É o acervo que conta uma história que muitas vezes é invisibilizada dentro da própria comunidade LGBT.

Elas costumam oferecer um tour guiado pelo espaço, mas é preciso entrar em contato com antecedência e por email. Eu tentei e mesmo assim não consegui. A justificativa foi que as visitas ainda estavam suspensas. Uma pena! Era um dos pontos altos do meu roteiro.

Um pouco mais distante de Manhanttan, já em Staten Island, fica a Casa de Alice Austen. Alice, que nasceu em 1866, foi um uma fotojornalista / documentarista que marcou sua geração por ser uma das primeiras mulheres a trabalhar fora de um estúdio. E ela era lésbica. E foi ali na sua casa que viveu ao lado de sua mulher, Gertrude Tate, até o final da sua vida em 1958.

Tour LGBT em Nova York

O Christopher Street Tours oferece caminhadas pela história do movimento LGBT em Nova York começando por Greenwich Village passando pelo bar Stonewall Inn, pelo Christopher Park, pelo Memorial de Nova York da AIDS e pelo Centro Comunitário LGBT.

Outros passeios que parecem incríveis são o tour pela história das Drags de Nova York e outro pelos Bares LGBTs mais históricos da cidade.

Infelizmente esse era outro programa que estava no topo da minha lista, mas nossas agendas não bateram porque as saídas passaram a ser apenas duas vezes por mês. Portanto, tente agendar seu passeio com antecedência.

Onde fazer compras LGBTs em Nova York

Visitar Nova York durante o Mês do Orgulho (pride month) não foi das tarefas mais fáceis para meu cartão de crédito. As lojas no Soho estavam cheias de bandeiras do arco-íris e lotadas de coleções pride. Confesso que caí na tentação algumas vezes e chorei quando a fatura chegou. Mas aqui queria compartilhar com você três endereços especiais que oferecem excelentes opções de presentes para torrar nosso suado pink Money em qualquer época do ano.

Começando pela livraria Mc Nally Jacksoon Books que fica na região revitalizada Seaport. Encontrei diversas prateleiras de livros LGBTs com todas as temáticas possíveis, mas quem resiste mesmo a um bom romance sapatão?

Já sob uma ótica feminista, a Bluestockings Cooperative funciona como uma cooperativa e tem um espaço comunitário que valoriza as obras produzidas por mulheres lésbicas e LGBTs. Sem dúvida é um endereço especial para quem busca uma literatura mais densa.

Por fim, a Lockwood é aquela loja gracinha que a gente entra só pra dar uma espiadinha e sai carregada de sacolas com coisas fofas vindas direto do mundo do Pinterest. Fundada por um casal de lésbicas, a loja acabou de abrir uma nova unidade em Williamsburg, o coração criativo do Brooklyn.

Bares lésbicos e para mulheres LGBTs em Nova York

Cubbyhole

Inaugurado em 1994, o Cubbyhole é um dos mais emblemáticos endereços lésbicos na cidade. Fica pertinho do Chelsea Market. Tem drinks baratos, é um espaço pequeno e vive cheio. A decoração é cheia de cacarecos pregados em todos os cantos. É o ponto de encontro perfeito para começar ou terminar sua noite.

Henrietta Hudson

Aberto em 1991, o Henrietta Hudson é o equivalente ao Danna’s Bar de The L Word: Generation Q e ser para dançar até Anitta. Ele é o bar lésbico e para todas as mulheres LGBTQ+s mais famoso de Manhanttan, quiçá de Nova York.

Stonewall Inn

Esse endereço não poderia ficar de fora da lista. Stonewall Inn é muitas coisas ao mesmo tempo: uma instituição histórica, um bar de bairro, uma festa e espaço para apresentações com karaokê e sinuca.

House of Yes

Já no Brooklyn, fica a balada House of Yes que só pelo nome prometia ser a noite mais doida de toda minha viagem. Mas para meu azar, acabei parando numa festa meio hétero-top tentando pagar de descontruído. Apesar de ser um endereço muito mencionado nos guias LGBTs, se você busca uma balada lésbica em Nova York, confirme a programação para não perder a viagem como aconteceu comigo.

The Woods

Em Williamsburg fica o The Woods, famoso bar LGBT que promove várias festas só para o público feminino. Não consegui visitá-lo, mas parece ser um ótimo lugar para terminar sua noite pelo Brooklyn.

Ginger’s Bar

Outro endereço clássico em Nova York, o Ginger’s Bar fechou e foi reaberto no último ano. Fica no Brooklyn e, ao lado do Cubbyhole e Henrietta Hudson, fecha o trio dos melhores bares para mulheres lésbicas em Nova York.

Company XIV

Essa indicação não se encaixa nem na categoria bar e nem balada, mas sim como um programa cultural diferente para animar sua noite no Brooklyn. Combinando burlesco, ópera e pop com cenários babados e coquetéis com absinto, a trupe de artistas da Company XIV faz apresentações criativas de clássicos com performances de encher nossos olhos. Se jogue!

Apesar da minha longa pesquisa, tanto online, quanto perguntando para os profissionais do órgão oficial do turismo da cidade e para frequentadoras desses bares, fiquei um pouco chateada ao saber que Nova York, especificamente Manhattan, concentre tão poucos espaços dedicados apenas para mulheres lésbicas e LGBTs.

Aliás, você sabia que em 1981 existiam 200 bares lésbicos em todo os Estados Unidos e hoje só restam 21? Pois é! Acabei de aprender mais essa com o The Lesbian Bar Project, uma iniciativa incrível que busca celebrar e valorizar os bares dedicados às mulheres LGBTs.

Eventos LGBTs em Nova York

As principais paradas LGBTs de Nova York ainda não liberaram as datas oficiais dos eventos para 2023. Assim que conseguir essas informações, atualizo esse texto com as novidades da Brooklyn Pride, da NYC Pride e da Queens Pride.