Eu confesso que alimentava uma grande curiosidade pela região da Serra da Canastra em Minas Gerais, tanto pelos famosos queijos quanto pelas belezas naturais do parque nacional.
Vamos para a Serra da Canastra? Vamos. Quando? Sei lá, que tal na Sexta? Fechado. Fui.
Assim, meio que por impulso, embarcamos para um final de semana de ~altas aventuras~ na tão sonhada Serra da Canastra \o/
Como chegar na Serra da Canastra?
Nós partimos do interior de São Paulo, região de Campinas, por quase 500km até a entrada da Serra da Canastra. De Belo Horizonte, são 360 km de estradas, e o pessoal da capital paulista pegará um trecho de aproximadamente 540 km. É estrada que não acaba mais.
Atenção: A maioria dos GPS têm mapas no máximo até as cidades de Vargem Bonita, Delfinópolis ou São Roque de Minas, por isso é sempre bom confirmar o caminho com o pessoal da pousada em que você vai se hospedar.
O Parque Nacional da Serra da Canastra é enorme e as cidades mais próximas são: Vargem Bonita e São Roque de Minas, ambas na parte Norte da Serra e próximas à nascente do Rio São Francisco e à Cachoeira Casca D’Anta, e Delfinópolis, localizada na parte sul do Parque Nacional.
Para uma primeira visita, sugiro conhecer a parte norte da Serra da Canastra e, se possível, hospede-se já praticamente dentro do parque, numa das diversas pousadas da região. Garanto que o contato com a natureza irá compensar a viagem 😀
O caminho até lá foi relativamente tranquilo, com rodovias duplicadas até a divisa com Minas Gerais, onde as estradas de pista única asfaltadas e em ótimo estado nos acompanharam até a entrada das cidadezinhas que dão acesso ao Parque Nacional. Mas, dali em diante, a brincadeira se tornou uma aventura 😉
Tchau asfalto, agora é hora das estradas de terra.
Curiosidade: No caminho para a Serra da Canastra, é bem provável que você passe pela represa da hidrelétrica de Furnas, uma das maiores do Brasil 😛
Todos os percursos dentro do Parque são feitos por estradas de terra, seja o acesso às trilhas e cachoeiras, seja em busca do melhor queijo Canastra. Infelizmente o acesso e a locomoção dentro da Serra ainda é um pouco complicado, principalmente se estiver chovendo.
Portanto, leve esse fator em consideração: a aventura é potencializada se sua intenção for passear por lá num carro de passeio convencional. Se esse for o seu caso, considere trocar a suspensão quando você voltar para casa 😛 Agora, se você tem um 4×4, certamente irá adorar o caminho dentro da Serra da Canastra como o Fred 😛
Mas calma, isso não quer dizer que você não possa levar seu 1.0 pra passear por lá. Estando tudo seco, você não deve ter muitos problemas na maior parte das estradas de terra, mas se estiver chovendo, a melhor opção é contratar um tour em 4×4 com alguma pousada ou morador da região, assim você evita perrengues e se diverte muito mais.
Dica: Se você estiver com um carro de passeio, não tente andar pela Serra se tiver chovido. Nós vimos muitos carros com os pneus cheios de lama e praticamente lisos, mesmo nas regiões mais baixas e tranquilas, o que pode causar acidentes graves ou deixar você atolado em algum lugar.
Quando ir para a Serra da Canastra?
Pois é. Santo de casa não faz milagre. Cientes de que a chuva poderia atrapalhar nossos planos, resolvemos encarar a estrada mesmo assim, já que estávamos num 4×4.
De fato ela atrapalhou, principalmente no acesso à parte alta do parque que, por causa das obras “mal feitas” naquele trecho, impossibilitou até que os experientes guias da região chegassem lá. Espero que essa situação se resolva logo :/
Agora você já sabe: de Novembro a Março é época de chuvas nessa região, e as condições das estradas ficam mais complicadas nesse período. Por isso, procure ir entre Abril e Outubro para pegar a época mais seca.
O que fazer no Parque Nacional da Serra da Canastra?
Como a administração pública tem complicado o turismo na região
Dos Parques Nacionais brasileiros, eu só conheço Foz do Iguaçu, então fazer uma comparação com a Serra da Canastra seria um pouco injusta. A infra-estrutura ainda é limitada, falta sinalização e informação sobre as rotas e passeios e as estradas de acesso são complicadas no período de chuvas.
Apesar de ser administrado pelo Instituto Chico Mendes e ter muito a oferecer ao visitante, ele ainda peca em alguns cuidados. Nem por isso é uma região que não mereça sua atenção, muito pelo contrário! Os cenários são belíssimos e os moradores da região são super receptivos e fazem de tudo para atender bem aos viajantes que passam por ali e suprir suas necessidades.
A união da administração pública + políticas de investimento do turismo nacional + licitações duvidosas tem complicado a vida do pessoal que depende do turismo na região 🙁
Por conta da temporada de chuvas, o consórcio que administrava as obras de melhorias do acesso à parte alta do parque simplesmente abandonou a obra, inviabilizando o acesso dos turistas que se hospedam na região. Na pousada que ficamos, além de nós, uma outra família também não conseguiu chegar à nascente do Rio São Francisco por causa disso :/
Ao conversar com o Vicente, o dono da pousada e um cara muito engajado e apaixonado pela Serra da Canastra, ele nos disse: “o que podemos fazer se o governo só tem olhos para a Estrada Real?”
Triste realidade para um destino com um gigantesco potencial turístico.
Vamos falar de coisas boas, então 🙂
A Serra da Canastra é uma importante região do nosso país, localizada no finalzinho da Mata Atlântica e início do Cerrado. Por isso a vegetação local é tão bonita e bem diferente de outras regiões de Minas Gerais.
Passamos apenas um final de semana na região e posso dizer que foi muito pouco. Foi tempo suficiente apenas para me apaixonar pelo Queijo Canastra e sentir um pouco o clima da vida local. Se você está pensando em conhecer a Serra da Canastra com mais calma, por favor o faça 😀 Para ajudar no seu planejamento, a Serra se divide basicamente em dois tipos de programas: o turismo de aventura e o turismo gastronômico/queijeiro.
Turismo gastronômico na Serra da Canastra
Motivada por uma antiga reportagem sobre a Serra da Canastra no Globo Rural, eu tinha muita curiosidade de conhecer de perto o trabalho dos produtores de um dos queijos mais nobres do nosso país: o Queijo Canastra.
Minha vontade de conhecê-los só aumentou depois desses dois posts de Constance Escobar e da Ailin Aleixo, duas críticas gastronômicas que eu respeito e admiro muito:
Serra da Canastra: dois dedos de prosa com alguns dos melhores produtores de queijo da região no Pra Quem Quiser me Visitar da Constance Escobar
Queijos brasileiros artesanais de leite cru: deliciosos e proibidos no Gastrolândia da Ailin Aleixo
Como o tempo era curto e as distâncias longas, optamos por visitar apenas dois produtores de queijo, os mais conhecidos, em São Roque: o Sítio do Zé Mario e a Fazenda Agro-serra.
Sítio do Zé Mario
A região da fazenda do Zé Mario é linda, mas tome cuidado com o acesso em dias de chuva! Essa foi a nossa maior aventura e, além de encontrarmos vacas que insistiam em não sair do caminho, passamos por dificuldades, mesmo estando num 4×4. Adrenalina pura, podemos dizer 😉
Lá o queijo é feito do mesmo jeitinho que antigamente. Depois de preparado, o queijo é colocado numa prateleira onde fica curando até chegar no ponto ideal para o consumo. Meu Deus, por que eu não trouxe o carro cheio desse queijo?
Preço de 1kg de queijo: +- R$ 30,00
Como chegar: Acesso pela estrada para a Cachoeira do Cerradão, km 4
Fazenda Agro-Serra
Outro produtor tradicional de queijo canastra, na Fazenda Agro-Serra você consegue ver a extração do leite pela manhã, a produção, o armazenamento do queijo e ainda pode trocar algumas idéias com o pessoal. Eles contaram, todo orgulhosos, que fornecem o queijo para o famoso restaurante Maní de São Paulo. Nós até vimos uma peça enorme que seria enviada para eles em breve 🙂
Preço de 1kg de queijo: +- R$ 25,00
Como chegar: Estrada para portaria São Roque km 1.1 de terra
Acho que se eu tivesse mais tempo, teria visitado uns cinco produtores, pois é bacana valorizar e divulgar o incrível trabalho e preocupação de manter a tradição local de todos os produtores. E o queijo é maravilhoso!
Turismo de Aventura
Você pode passar uma semana na Serra da Canastra e provavelmente terá atividades diferentes para fazer e lugares lindos para conhecer sem repetir nenhum deles na programação.
Trilhas, motocross, canoagem, bóia-cross, passeios de jeep, rapel, cachoeiras, lagoas, rios, caminhadas e muita atividade ao ar livre fazem parte da programação de quem quer passar um tempo na Serra da Canastra. Por conta da circulação no parque ser um pouco limitada para quem não tem um veículo apropriado, muitas pousadas e guias locais oferecem esses tipos de passeios.
Cachoeiras
Só o guia 4 Rodas elenca 10 cachoeiras diferentes para você conhecer dentro da Serra da Canastra. Algumas com acesso mais difícil e com a necessidade de guia cadastrado, outras nem tanto, mas certamente muitas surpresas te esperam por lá \o/
Nós fomos até a parte baixa da Cachoeira Casca D’Anta, a mais famosa e acessível do parque. Para entrar, você precisa pagar uma taxa de R$6,50 na portaria do parque e caminhar 25 minutos até a cachoeira em meio a muita natureza. E como ela é linda! Apenas atente para o fato de que, como a queda é muito alta, quanto mais perto você chegar dela, mais irá se molhar 😉
Piscinas Naturais
Não podemos esquecer também de falar das belas piscinas naturais da Fazenda do Tio Zezico, um simpaticíssimo senhor que tem certamente a melhor vista da região!
Pena que quando fomos, estava chovendo e o rio estava caudaloso e cheio de barro 🙁 O Tio Zezico pede apenas que você doe 2 reais para entrar na propriedade e ir até as piscinas. A fazenda fica no caminho para o Morro do Carvão, +- no km 15, mas é melhor você pedir indicações na pousada em que estiver se hospedando para não ter erro 🙂
Se estiver ensolarado, não perca essa visita!
Morro do Carvão
Um dos pontos altos da Serra da Canastra e com uma vista incrível. Chegar lá não é difícil, mesmo com chuva, e você ainda pode descansar, tomar alguma coisa e comer uma comida típica no Restaurante Edmar Simone que fica no topo 😛 Pena que estava chovendo e as nuvens atrapalharam um pouco da vista, mas ainda assim valeu a pena.
Onde ficar na região da Serra da Canastra?
Seguindo a dica da Mirela do Mikix, ficamos na pousada Fazendinha da Canastra. Uma pousada familiar bem simples no coração do parque, cujo dono, Vicente, é uma figuraça carismática e cheia de histórias e dicas da região pra contar. Seus mapas são o salvador da pátria pra quem quer partir dali e conhecer a região por conta. Além disso, ele também faz tours guiados e passeios de 4×4 pelo Parque Nacional.
O atendimento é ótimo, as acomodações são boas, mas certamente o melhor de tudo foi poder provar o delicioso McMinas: pão de queijo caseiro, quentinho e fresquinho com queijo da canastra na chapa do fogão à lenha. Valeu encarar cada uma das 8 horas de estrada por esse momento 😀
Dica: Se você tem uma chapa, frigideira anti-aderente ou um fogão à lenha, experimente derreter o queijo canastra para depois colocá-lo como recheio de um pão de queijo. Esse McMinas (by Vicente) é demais!!!
No site da pousada, há indicações e mapas explicando como chegar lá, mas se você pedir, o Vicente pode lhe enviar um email com todas as indicações e pontos de referência de que você precisa, até porque nenhum GPS que eu olhei, nem o Google Maps, tem o caminho inteiro até lá. Além disso, ele faz um mapinha detalhado na hora pra qualquer lugar na Serra da Canastra que você quiser ir 😛
No Booking você encontra algumas ofertas de hotéis em diferentes cidades da Serra da Canastra, mas a maioria ainda trabalha no esquema das pousadas brasileiras, ou seja, você manda email ou telefona para a pousada, confere os preços e se há disponibilidade, depois faz um depósito para garantir sua reserva e pronto 🙂
Veja o mapa da Serra da Canastra em uma janela maior
Veja também:
Serra da Canastra no Mikix da Mirella Matthiesen
Roteiro de final de semana em Ouro Preto
Voltamos pra casa com a sensação de deveríamos ter ficado mais tempo, mas isso já era esperado. Só não imaginava que os queijos que compramos iriam acabar tão rápido 😛
Você já foi para a Serra da Canastra? Tem alguma dica para dar?
E qual outro Parque Nacional você indica para conhecermos?
Olá, tenho vontade de conhecer a serra da canastra. Pretendo ir de carro, mas não é um 4×4.
Tenho um Corolla.
Você acha que da pra ir com esse carro tranquilamente (no período de seca, é claro) ??
Obrigado
Oi, Johnny.
Mesmo viajando na época da seca, talvez a suspensão do seu carro sinta um pouco — principalmente se você optar por seguir as trilhas mais complicadas.
Outra opção é fazer os passeios básicos e contratar uma agência local que te leve para os caminhos por onde passam apenas os 4×4.
É uma linda viagem!
Ok, Natalie, muito obrigado!
Boa viagem 😀
Cara, se tiver como ir com outro carro seria melhor, você vai judiar demais do corolla, carro sedan não é bom nem na seca e nem na chuva lá na serra.
Eu fui para Capitólio com um GOL alugado e furei dois pneus.
Gostaria de saber de uma ranger 4×2 aguenta a chuva p o passeio da Serra da canastra no início de dezembro /18. Se chover . Onde ficar em São Roque ?
Olá, Cida!
Acredito que a Ranger dê conta das estradas de terra na região da Serra da Canastra 😉 Veja algumas dicas de hospedagem em São Roque de Minas nesse link
Olá! Amei as dias! Estou planejando uma viagem para lá! Fora de temporada e na época da seca, pois nao tenho 4×4, vou de sedan mesmo. Uma pergunta: dá pra conferir algumas atrações mesmo sem o 4×4? Por exemplo, a parte baixa da Casca D’Anta e algumas fazendas queijeiras? O meu interesse na região é o turismo gastronômico, e aproveitaria a oportunidade para conhecer algumas paisagens.
Oi Gabriel, tudo bem?
É possível, mas vou dizer que é arriscado e, dependendo do carro, vai raspar bastante no chão. Fora que ele vai sofrer com a suspensão e pneus (eu já passei muito perrengue por causa de um pneu furado) e o Fred foi de Argo e teve dificuldade de chegar no hotel, mesmo na seca.
Em muitos pontos não há celular, o que deixa mais complicado caso aconteça algum problema.
Mas o Fred também encontrou carros pequenos 4×2 na nascente do São Francisco.
Dito isso, chegue no hotel e converse sobre os locais que você deseja visitar e as condições das estradas e, se não for possível pelas condições, contrate um tour, pois vai valer a pena 🙂