A gente aprende na escola. Foge do povo do Green Peace na Paulista. Compartilha vídeo do Leonardo di Caprio e do Mark Rufallo pedindo para proteger a floresta. Mas será que entendemos seu real significado? A floresta amazônica atravessa quantos estados brasileiros? E abrange quais territórios vizinhos? Aposto que você titubeou em algumas dessas respostas. Ninguém liga para a geografia e meio ambiente, é um assunto tão Rio 92. A moda agora é inteligência artificial regenerativa.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - natureza

E quando o assunto é viagem para a Amazônia, para onde seu pensamento te leva? Cenas de Anaconda? Casamento às cegas? Ou gringo usando coletinho acaju? E por que, na hora de planejar férias, ela tende a ficar em segundo plano? Não me venha com esse papo pré-fabricado que de é muito caro. Uma viagem para a Disney também é.

Não sabia o que esperar dos dias que passaria por lá. Nunca tinha provado pratos típicos amazônicos, conhecia (e ainda conheço) pouco sobre os diferentes povos originários que resistem e continuo com uma certa dificuldade para nomear os rios que cortam a região. Embarquei com uma bota de trekking nova, um boné e um par de havaianas para uma das viagens mais marcantes dos últimos tempos num destino que sempre esteve ali, no coração e no quintal do nosso Brasil.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - passeios de barco

A Amazônia dos livros de geografia

A Amazônia representa a maior reserva de biodiversidade do planeta. Alguns pesquisadores acreditam que ainda existe muito a ser mapeado na região. São milhares de espécies de animais como peixes, pássaros, mamíferos, microrganismos e milhares de tipos de plantas e árvores diferentes. Talvez nem nosso olhar seja capaz de capitar toda a profundeza das suas cores e texturas.

Os números são gigantes: ela abriga os maiores arquipélagos fluviais do mundo, os maiores rios em extensão e volume d’água e a maior reserva de água doce da Terra. Do planeta mesmo, meu camaradinha.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - cidade abandonada

Os povos indígenas que vivem ali são tão ancestrais quanto as civilizações mais antigas de que se tem história. Objetos e artefatos indicam que vivem na floresta a seis mil anos.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - navegação

Katerre: pelos rios da Amazônia sem perrengue

Fiz o roteiro de cinco dias saindo de Novo Airão e navegando pelo Rio Negro até chegar no Rio Jaú e percorrer o Parque Nacional do Jaú com a embarcação Jacaré-Jaú, uma simpática casa de madeira flutuante.

o Parque Nacional do Jaú faz parte da bacia do rio Negro e é formado por três rios: o Carabinâni, o Jaú e o Unini. E desde 2003 faz parte da lista da Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - espelho d'água

E por falar em casa, é assim que me senti. Tinha medo de enjoar, de passar mal como passei na Bolívia e nada disso. Como é bom notar que era só uma preocupação sem sentido. Dormi como princesa, consegui trabalhar nas urgências do Sunday (pois é, não consegui me desconectar e me conectar completamente) e ainda aproveitei cada refeição a bordo com uma alegria no olhar e no paladar que há muito não sentia. Logo eu, moça da roça metida a cidade grande, me senti em casa, uma casa flutuante.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - passeios para conehcer a fauna e a flora

Passeios a bordo da Expedição Katerre até o Parque Nacional do Jaú

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - nascer do sol

Zarpamos de Novo Airão, uma cidade que fica a cerca de três horas de carro de Manaus. O embarque no Rio Negro foi feito depois do saboroso almoço (ainda sinto falta dos peixes amazônicos!) no restaurante flutuante Flor do Luar. Aliás, esse nome é uma homenagem à Margaret Mee, uma botânica e ilustradora fascinada pela flor-da-lua, um tipo de cacto que só floresce durante uma única noite por ano.

Jacarés, piranhas, tartarugas, ariranhas e diversas aves me acompanhariam. Até mesmo o Jaú, aquele peixe de três metros conhecido como o tubarão de água doce, poderia cruzar pelo caminho. Caminho este que também me fez conhecer comunidades ribeirinhas isoladas, cachoeiras, cidade abandonada no coração da floresta e trilhas que não me levariam de volta pra casa. Já estava em casa.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - pescaria

Praia de água doce? Por que não? Bancos de areia. Queda d’água no meio da correnteza do rio. Pescaria de piranha ao amanhecer. Focagem noturna de jacarés. Nenhuma saída era repetitiva, nenhum passeio feito com as voadoras (aqueles pequenos barcos de apoio) era parecido. Imersa naquele enorme espelho d’água, não conseguia mais distinguir o contorno das margens dos rios e imensidão da floresta.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - praia de rio doce

Numa das paradas do barco, venci meu medo de não saber nadar e me joguei (com colete e boias) no Rio Negro. Fiz uma trilha até as Grutas do Madadá. Sim, isso mesmo, fiz uma trilha por vontade própria. Quem diria que uma viagem dessas me levaria do banho de rio para caminhadas na mata. Na primeira noite, ainda era possível dormir ouvindo o som da floresta num redário que fica nas margens do rio, mas o convite do ar-condicionado geladinho me ganhou.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - barco

Durante essas saídas para os passeios fora do barco, o guia Josué compartilhava histórias de sua vivência na mata e mostrava um pouco das suas surpresas como a tucandeira, uma espécie de formiga usada em rituais indígenas que marcam a passagem para a vida adulta, e a tapiba, outro tipo de formiga que os caçadores passam no corpo para disfarçar os odores. E por falar em odores, vi de perto o breu, aquele mesmo do perfuma da Natura e o pau rosa entra outras bases que já geraram muito lucro para a indústria da beleza.

A cidade fantasma de Velho Airão

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - passeio

Se o ponto de partida foi Novo Airão, a cidade abandonada de Velho Airão não poderia ficar de fora. Antes de assumir sua versão “cidade perdida”, esse espaço foi estratégico durante o ciclo da borracha na Amazônia e teve seus tempos de glória entre 1879 e 1912. Com a decadência do látex, muitos moradores acabaram abandonando suas casas e hoje esse território é tomado pela floresta densa.

E quem disse que petróglifos é coisa apenas de pré-Incas?

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - petroglifos

Próximo de Velho Airão, Josué ainda nos levou para ver algumas gravuras rupestres entalhadas em enormes pedras. Apesar da crença popular dizer que os Incas poderiam ter chegado até ali, uma linha de pesquisa estuda a possibilidade dessas marcas serem de um povo ancestral que viveu na bacia do Rio Solimões e chegou até ali.

Sumaúma, a majestade da selva

Esse roteiro não estaria completo sem uma parada num dos símbolos mais sagrados da Amazonia. Essa árvore gigantesca pode viver mais de quatrocentos anos e é preciso uma força-tarefa com muitos homens para conseguir envolver todo seu diâmetro num abraço. Ali fiz minha oração.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - parquena nacional do jaú

Informações práticas sobre as expedições da Katerre

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - nascer do sol

Quais roteiros são oferecidos pela Katerre?

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - embarcação

A expedição oferece cinco roteiros que navegam por rotas diferentes e tem durações de até 8 dias:

  • Anavilhanas – 4 dias
  • Jaú – 5 dias
  • Jaú Plus – 6 noites
  • Anajaú – 7 dias
  • Resex Jauaperi – 8 dias

Como é a infraestrutura do barco?

Viajei no barco chamado Jacaré-Açu, todo feito de madeira certificada. São três andares: no primeiro, ficam quatro suítes com beliches, a sala de jantar e a cozinha aberta. No segundo, a sala de estar climatizada e mais quatro quartos com camas de casal.

Todo mundo tem seu banheiro privativo, um ar-condicionado para chamar de seu e amenities da Natura, colchões altos e lençóis macios. Tomadas 110v e 220v estão disponíveis nas cabines. A bordo, ainda temos acesso à internet via satélite (Starlink). No último piso fica o deck da cobertura com espreguiçadeiras e redes. Ali também é feito o tradicional churrasco de despedida antes de atracarmos no píer do Mirante do Gavião.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - quartos
Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - kit da natura para os hóspedes
Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - quarto duplo

A embarcação tem 64 pés e navega até 16 km por hora. Ela não emite tantos ruídos sonoros como barcos maiores, o que diminui o impacto sonoros na fauna. Existe uma preocupação muito grande (e isso fica claro na prática) com questões de manutenção e infraestrutura: todos os barcos liberam baixa emissão de poluentes fósseis, sonoros e orgânicos.

A Katerra tem outras embarcações:

    • Jacaré-Tinga: embarcação de 53 pés (aprox. 16 m), com dois andares. Acomoda até oito pessoas em três suítes climatizadas.

    • La Jangada: catamarã de aço de 95 pés (aprox. 29 m) tem doze cabines-suítes e transporta até 29 viajantes. *não tem saídas regulares, por enquanto opera apenas com charter já comprados.

O que está incluso na expedição?

Tudo. A única preocupação é se abrir para o que a floresta tem de melhor a nos oferecer. Todos os passeios, refeições e infraestrutura citada acima fazem parte da Expedição Katerre. São organizados entre dois e três passeios por dia e acabamos retornando ao barco para o almoço ou o jantar.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - rio jaú

Gastronomia a bodo

Tentei arrancar algumas receitas das cozinheiras, mas elas foram duras na queda e não me contaram seus segredos. Essa viagem já valeria a pena se fosse resumida apenas à boa mesa. Dava vontade de sair gritando feito doida como o Brasil é bom demais. A última fronteira do verdadeiro luxo: a simplicidade de se cozinhar todos os dias a bordo usando ingredientes frescos e reproduzindo o que já de melhor nas nossas tradições culinárias. Comida bem-feita, com alma e sabor.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - entardecer a bordo do barco

Equipe

Gentis e com um sorriso no rosto, a tripulação estava sempre disposta a ajudar, a começar uma proza e compartilhar um pouco do que chamam de quintal de casa. (E para os mais preocupados de plantão, a equipe é amplamente capacitada, os guias são treinados e conhecem tudo sobre a selva e entendem sobre primeiros socorros).

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia

Qual é a melhor época para embarcar na Expedição Katerre?

A região do Parque Nacional do Jaú e o Arquipélago de Anavilhanas podem ser visitados o ano todo, mas note que existem grandes diferenças entre os períodos de alta e baixa na vazante dos rios. Nos últimos anos, com o agravamento da crise climática, as secas têm se mostrado cada vez mais intensas, por isso, algumas saídas programadas estão sujeitas as condições de navegabilidade.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - decl superior

Entre fevereiro e março, acontece a soltura das tartarugas que foram preservadas graças ao projeto Bicho de Casco comandado pela Expedição Katerre. Já entre os meses de julho, agosto e setembro, muitos turistas estrangeiros aproveitam essa época para conhecer a Amazônia. Entre setembro, outubro e novembro, é a vez do pessoal que curte viagens de pesca esportiva.

Em resumo: o período de cheia acontece entre abril e agosto e a seca dura entre setembro e março.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia

O que levar na mala para a Amazônia

Menos é mais. Leve apenas uma mala de mão ou uma mochila com roupas confortáveis, o ambiente é bem informal e lembre-se que o clima é extremamente quente e úmido. Então aí vão alguns itens indispensáveis:

    • Roupas leves (dê preferência para aquelas que oferecem proteção UV. Marcas como UV.Line e Lupo me salvaram nessa viagem. Levei uma calça e uma camisa de manga longa para me proteger durante a trilha mais longa)

    • Garrafinha de água

    • Óculos de sol

    • Boné ou chapéu

    • Lanterna

    • Capa de chuva

    • Roupas de banho

    • Cangas

    • Saco impermeável tipo Ziploc para proteger a câmera ou o celular durante as trilhas

    • Tênis e chinelos (vivo torcendo o pé, por isso optei por levar uma botinha de trekking)

    • Produtos de higiene pessoal (levei um spray refrescante da Natura que me ajudou com a sensação de calor)

    • Sua farmacinha pessoal

    • Mochila pequena para as caminhadas

Embora não seja obrigatório, o Ministério da Saúde recomenda que todo mundo que pretende visitar a região esteja imunizado contra a febre-amarela.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia

Turismo sócio-responsável

A Expedição Katerre e o hotel Mirante do Gavião, que fazem parte do mesmo grupo de hospitalidade, desenvolvem um trabalho concreto buscando fortalecer a comunidade no entorno de Novo Airão. Um deles é voltado para educação ribeirinha que visa criar uma rede de educação básica em 25 comunidades isoladas na região.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - projeto social

Outra iniciativa que transforma a vida de mais de 40 famílias é a Fundação Almerinda Malaquias, um espaço para estudos de agroecologia e educação ambiental. Lá também ensinam técnicas de marchetaria, reciclagem e produção de sabonetes. Por fim, eles também dão suporte às iniciativas da Associação dos Artesãos do Rio Jauaperi (AARJ).

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - casa

Todos os funcionários são da região e a empresa tem um compromisso muito sério com questões de impacto socioambiental que eu pude ver na prática. Entre tantos projetos de turismo consciente, o trabalho desenvolvido pela Katerre é um dos mais transformadores e reais que já conheci.

Como reservar a Expedição Katerre

Mais informações ou reservas, basta entrar em contato direto com a equipe por WhatsApp +55 92 99503-8634 e +55 92 99379-2784. Confira o calendário com todas as saídas programadas para 2025 e a base de valores.

A viagem terminou com o desembarque no hotel Mirante do Gavião, mas isso já é assunto para um outro artigo.

Expedição Kattere - viagem de barco pela Amazônia - floresta

Natalie viajou a convite da Expedição Katerre e do hotel Mirante do Gavião