Depois de gastar cinco horas para percorrer 200 km desde Carmel (graças às paradas para curtir e fotografar), finalmente chegamos a San Luis Obispo, já no meio da tarde.
“San Luis Obispo? Que lugar é este?”, você deve estar se perguntando. Antes de tudo um dado que vai intrigá-lo: em 2008, uma pesquisa do Instituto Gallup-Healthways revelou que San Luis Obispo é a cidade mais feliz dos Estados Unidos. Ou seja, aquela em que os habitantes se declararam mais alegres e satisfeitos com a qualidade de vida.
A felicidade de San Luis Obispo
Essa foi a primeira informação que recebi da guia local que me levou para passear pelas principais atrações. E eu não tive razões para duvidar. San Luis Obispo fica bem no meio do caminho entre Los Angeles e São Francisco. Por isso, desde os tempos da colonização espanhola, sempre houve um cuidado especial para torná-la um ponto de parada e descanso agradável aos viajantes.
Haja vista que neste lugar foi inventado o motel. Sim, o primeiro hotel de beira de estrada do mundo, especialmente feito para abrigar viajantes de carro, foi inaugurado ali em 1925: o Milestone Motor Hotel – ou simplesmente “Mo-tel”.
Atualmente, a cidade tem 46 mil habitantes, dos quais quase 20 mil são estudantes, já que abriga uma das mais importantes instituições de ensino do país, a California Polytechnic State University – ou apenas Cal Poly, como é chamada. Ela também é parada para muitos praticantes de esportes de natureza, como trekking, rafting e, principalmente, surfe e windsurfe, já que ali pertinho ficam as praias de Pismo e Avila, escondidas e bucólicas.
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Caminhando pelo centrinho histórico e ouvindo as palavras empolgadas da minha guia, logo formei uma imagem do lugar: um misto de culto à saúde com irreverência juvenil.
Culto à saúde
Culto à saúde porque San Luis Obispo foi a primeira cidade do planeta a banir o fumo em edifícios públicos, bares e restaurantes. Aliás, hoje em dia, é proibido fumar mesmo na rua – com exceção de uns poucos fumódromos oficiais.
Sem contar o amor pelas bikes, pois este é um município onde as ciclovias nem sequer são necessárias, já que os motoristas revelam um respeito incomum pelos ciclistas. E não faltam pelas ruas racks para prender as magrelas, assim como locais para alugá-las.
Irreverência juvenil
A irreverência juvenil está nos bares, pubs, comic stores e até mesmo na rua. Uma das mais famosas atrações é a Bubble Gum Alley. Confesso a você, caro leitor do Sundaycooks, que esse foi um dos pontos turísticos mais bizarros que já visitei na vida.
A Bubble Gum Alley é uma estreita passagem de pedestres por entre o casario do centro de San Luis Obispo. No final dos anos 1950, ela era ponto de encontro de estudantes, que começaram a grudar chicletes (bubble gum) em suas paredes. Por mais que a prefeitura limpasse o local de tempos em tempos, a rebeldia estudantil trazia aos muros mais e mais gomas de mascar. Até que as autoridades desistiram e aderiram à causa no começo dos anos 80, declarando o lugar “ponto de interesse turístico”.
Hoje, são centenas de milhares de chicletes forrando os dois lados do beco, formando um curioso mosaico colorido, que cresce ainda mais conforme os turistas passam.
Baladas, boa comida e hospedagem barata em San Luis Obispo
Achou isso esquisito demais? Ok, há destaques mais “normais”, ainda que também surpreendentes. É o caso do Madonna Inn (nada a ver com a cantora), um hotel luxuoso, mas incrivelmente kitsch, que ganhou fama mundo afora por ter quase tudo no seu interior na cor rosa. Ou, ainda, o Farmer’s Market, uma feira semanal de produtos naturais com direito a bandas de música e parada de bicicletas enfeitadas.
Com o enriquecimento recente dessa região, graças à indústria da tecnologia, San Luis Obispo também deu um salto em termos de gastronomia. Coisa que pude constatar em um dos mais descolados restaurantes da região, o Foremost Wine & Co.
Em um ambiente à meia-luz, que lembra uma cave francesa, o Foremost recebe desde turistas e estudantes até os jovens executivos e executivas da região para o happy hour mais animado da cidade. Serve tapas deliciosas (uma das melhores burratas que já degustei!) e pratos quentes daqueles bem complexos, como o Lamb Biryani (US$ 32). Quer saber o que ele leva? Prepare-se: cordeiro de Adelaide Springs assado com cebolas doces, marinado no gengibre com curry, arroz basmati, pão naan assado com água de rosas em panela de barro, acompanhado de iogurte indiano raita, bananas frescas e hortelã. Ufa!
Com o cair da noite, a pedida é caminhar pela Higuera Street, onde ficam os pubs, bares e baladas. Não espere uma noite como a das grandes metrópoles, mas também não ache que a cidade é pacata – lembre-se: 20 mil estudantes!
Apesar disso, o cansaço da viagem bateu e fomos para o hotel. Por falar nele, há 43 opções de hospedagem, além de dezenas de casas para aluguel de curta duração (ideal para quem viaja em família ou em grupo).
Há desde alternativas ultraeconômicas como os motéis das redes Motel 6 e Super 8, a US$ 70 por noite, até resorts imponentes, como o Sycamore Mineral Springs Resort and Spa, a US$ 250 a diária. Nós desfrutamos de uma opção intermediária, o Hampton Inn & Suites, um hotel sem grandes luxos, mas correto e confortável, com diária de US$ 150.
Confira os outros posts desta road trip pela Califórnia:
- Roteiro de dois dias em São Francisco
- Road trip pela Califórnia: de São Francisco a Carmel
- Road trip pela Califórnia: Big Sur, elefantes e castelos
Paulo Mancha D’Amaro
É jornalista e comentarista esportivo dos canais ESPN. Foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 30 reportagens internacionais e ganhou em duas ocasiões o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Dirige o blog Viajando Por Esporte.
Paulo Mancha viajou pela Califórnia a convite do Turismo da Califórnia.