Como você já sabe, representei o Sundaycooks em uma viagem pela República Tcheca – um tour da cerveja promovido pelo CzechTourism e pela KLM. Nos posts anteriores, você conheceu a surpreendente Plzen (ou Pilsen) e a chiquérrima Karlovy Vary. Hoje, é dia de falar de um patrimônio da humanidade: a cidade medieval de Cesky Krumlov, tombada pela UNESCO.
Guarde esse nome e, definitivamente, dê um jeito de ir para lá quando visitar a Europa. Cesky Krumlov não é só bonita. Nem só agradável. Nem só espetacular. Mais que tudo isso, ela é singular. Parece uma pintura, e não a realidade.
Cesky Krumlov, patrimônio da humanidade
Fundada no século 13, ela abrigou durante séculos boa parte da nobreza germânica devido à sua localização na região dos Sudetos, muito próxima à Alemanha e à Áustria. Por consequência, seu panorama é um agregado de castelos, palácios, torres e outras construções centenárias que, por algum milagre, sobreviveram a todas as guerras, conflitos e desastres naturais dos últimos 800 anos.
Para coroar a beleza plástica do cenário, Cesky Krumlov ocupa um vale com penhascos dramáticos, sobre os quais se apoia todo o casario, contornando o Rio Vltava ou Moldava, aquele mesmo que corta a capital Praga, 170 km ao norte.
Confesso que já viajei muito pelo mundo, mas minha sensação ao andar pelas ruelas medievais debruçadas em encostas verdejantes desse recanto tcheco não teve muitos precedentes. Lembro-me de sensação parecida somente em Cuenca, na Espanha, e em algumas pequenas cidades da Borgonha, na França.
Para chegar ali de carro, gastei duas horas. De trem, a viagem dura pouco mais de 3 horas e custa €36 (ida e volta – abril 2016). E você nem precisa se hospedar por lá: um bate e volta de dia inteiro é suficiente para desvendar o que há de bom na cidade.
Nota do editor: Eu concordo com o Paulo, mas juro que, quando estive lá, fiquei curiosíssimo para ver a cidade de noite, a sensação de voltar no tempo deve ser incrível. Por isso, se você tiver um diazinho a mais no roteiro, considere dormir em Cesky Krumlov antes de seguir viagem 😀
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Onde ficar em Praga para aproveitar melhor a cidade?
Uma cervejinha pela manhã…
Minha jornada começou com… cerveja. Não, não tem hora para tomar o néctar sagrado dos tchecos. Às 11h da matina já tem gente nos bares degustando uma gelada (mas que fique claro: é degustando mesmo – a qualidade tem precedência sobre a quantidade no país eslavo).
Por isso, logo de chegada encaramos a Eggenberg, tradicional cervejaria krumloviana, criada em 1560. Claro que muita coisa mudou desde então e os edifícios atuais são mais novos, tipo assim, com uns 200 anos de idade.
A Eggenberg produz hoje sete variedades de cerveja: duas drafts leves, duas lagers claras, uma lager escura, uma de baixo teor de açúcar e uma sem álcool.
Exceto pela não alcoólica, experimentei todas. Todas deliciosas. E todas acompanhadas de uma taça do precioso Pivní pálenka Eggenberg – um licor feito da própria cerveja local. Para produzir cada litro dele, são necessários 10 litros de cerveja. E o resultado final é um destilado forte (42%), mas aromático, que realça o frescor das cervejas locais quando tomado juntamente com elas, principalmente as versões não filtradas ou pasteurizadas.
No restaurante, você pode ainda experimentar os frios, salsichas e carnes típicas da Boêmia, feitas especialmente à base de porco. Sem contar um prato muito comum por ali, ainda que pouco familiar para os brasileiros: a carpa que, para mim, sempre foi um peixe ornamental, de carne pouco favorável a arroubos gastronômicos. Nessa região, porém, as carpas têm algo de diferente em sua genética, que as tornou uma iguaria, em geral preparada com manteiga, ervas e batatas.
Para quem quiser ir além do restaurante, há visitas guiadas pelo complexo cervejeiro. A mais básica custa 50 coroas tchecas (cerca de R$ 8). Existem outras opções que incluem degustações e desconto na loja, a mais completa delas custando 150 CZK (aproximadamente R$ 23) e compreendendo dois copos de cerveja e um kit de 4 garrafas para levar – uma verdadeira pechincha!
Castelos, esqueletos e marionetes
Desbravada a cervejaria, partimos para a atração turística maior do lugar: o Castelo de Cesky Krumlov. Como é praxe na República Tcheca, a palavra “castelo” ou hrad não se refere a uma única construção, mas a um complexo de edifícios. No caso, há a fortaleza propriamente dita, cercada de 12 outros prédios, que incluem desde estábulo até um teatro – aliás, um dos mais bem preservados em estilo barroco de todo o planeta.
As origens do Castelo de Cesky Krumlov remontam a 1240, quando a família Rosenberg (você vai ouvir muito sobre ela quando visitar esse país) mandava e desmandava na Boêmia, celebrando sua opulência com palácios e instituições culturais incomuns para aquela época.
Dica: prepare a câmera e dedique um bom tempo aos detalhes das construções, desde as fachadas repletas de mosaicos e pinturas até os arcos imponentes e telhados coloridos. Este é um lugar para saborear com os olhos e guardar em cada uma de suas minúcias na memória – a sua e a da máquina fotográfica.
Na torre do castelo fica o Hradní Muzeum, um museu que merece a visita. Ali, você encontra centenas de artefatos que revelam como era a vida dos nobres locais nos séculos passados. Há desde banheiros do século 15 até armaduras de 1700. E, ainda, um esqueleto de santo! Sim, os ossos de São Reparatus, um dos evangelizadores da região.
A entrada no museu custa 100 coroas (cerca de R$ 15), mas aqui vale outra dica: se você quiser visitar outros museus na cidade, pode valer a pena comprar o Cesky Krumlov Card. Por 300 coroas (R$ 45), você ganha acesso a outros quatro museus, incluindo o Regionalni Muzeum, com seu belíssimo acervo de obras de arte desde o período medieval até o gótico. Eu fui e recomendo! Sem falar nos interessantes Museu da Fotografia e Monastério Cesky Krumlov. Veja os detalhes sobre o card aqui.
Infelizmente, um dos museus mais interessantes ficou de fora do Cesky Krumlov Card, o Museu das Marionetes (80 coroas – R$ 12). Vale lembrar que o teatro de marionetes é uma tradição tcheca, fonte de orgulho nacional. Ele está para os habitantes do país eslavo como o kabuki para os japoneses, a ópera para os italianos ou Shakespeare para os britânicos.
Na visita a esse museu, me refestelei com as fotos de bonecos de todos os tipos e estéticas, além de me aventurar a manipulá-los num pequeno palco especialmente montado para os visitantes. E acredite: não é nada fácil! O que só aumentou minha admiração por essa arte com mais de 400 anos de existência.
Cesky Krumlov: beleza onde quer que você olhe
Uma das coisas mais legais de Cesky Krumlov é que, mesmo que você abdique de entrar nos museus, palácios, cervejarias e afins, vai se embriagar de qualquer forma. Não com álcool, mas com a beleza do lugar. É daqueles recantos em que basta passear pelas ruas para ser abordado involuntariamente pelo cenário. Parece que cada casa, cada praça, cada muro ou arco de passagem foi meticulosamente desenhado para compor uma paisagem colorida e exuberante.
Ainda que minha jornada tenha acontecido em um dia chuvoso, gastei quase três horas apreciando o panorama e preenchendo cartões de memória da câmera simplesmente ao vagar pelas ruas, becos e praças. Ainda mais nos mirantes como o do Hotel e Restaurante Ruze (não deixe de conhecer!) ou nas imediações do Regionalni Muzeum.
O tempo ruim, vale dizer, não afastou da praça central (Náměstí Svornosti) os artesãos que diariamente ali montam uma alegre feirinha. Queijos caseiros, salames, licores, pão de gengibre (experimente!) presentes e roupas preenchem as barraquinhas, muitas vezes com os próprios donos ali produzindo o que vendem, na frente dos visitantes (nem pensar em made in China!).
Difícil escolher o cidadão mais pitoresco: aquele que criava roupas em um tear do Século 19 ou aquele que guiava uma leva de turistas vestido como um cavaleiro de 300 anos atrás.
Já completamente apaixonado, terminei minha passagem por esse lugar especial em… uma cervejaria, óbvio. A Na Louzi é, na verdade, um pub simpático, reduto dos intelectuais da Boêmia há décadas, decorado com centenas de anúncios antigos de cerveja (e outros produtos). É onde você se mistura com habitantes locais, em busca de um final de tarde aprazível.
A propósito, sabe quando eu lhe disse lá no começo deste texto que bastava um “bate-e-volta” a partir de Praga? Bem… talvez eu tenha sido injusto com Cesky Krumlov. Relaxe, curta a noite, o dia seguinte e talvez mais um. Este lugar merece.
Paulo Mancha D’Amaro
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[one_half_last]É jornalista e comentarista esportivo dos canais ESPN. Foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 30 reportagens internacionais e ganhou em duas ocasiões o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Dirige o blog Viajando Por Esporte.[/one_half_last]
Paulo Mancha viajou pela República Tcheca a convite do CzechTourism e da KLM.