Essa foi minha terceira viagem para São Francisco e não esperava encontrar nenhum programa novo ou diferente. O objetivo era claro: atualizar os conteúdos e conferir o abre / fecha na cidade nesse pós-pandemia. Ainda bem que minha amiga me levou para passear pelo bairro de Haight-Ashbury, o berço do movimento hippie dos Estados Unidos.
Haight-Ashbury e a história do movimento hippie nos Estados Unidos
Com o avanço da Guerra do Vietnã, a década de 1960 foi marcada pelo surgimento de um movimento jovem que contestava a sociedade capitalista e poderio bélico nos Estados Unidos. Influenciados pela luta pelos direitos civis comandada por Martin Luther King e pela organização liderada por Mahatma Gandhi em busca da independência da Índia, eles pregavam o amor livre e a não violência.
De forma sucinta, foi assim que o mundo, ou pelo menos os Estados Unidos, passaram a conhecer os hippies – grupo que logo adotou o mote “paz e amor” como filosofia de vida. Mais do que um slogan, eles tiveram um forte impacto na cultura norte-americana, tanto em assuntos relacionados à justiça social, quanto em temas ambientais e tecnológicos e isso fica claro ao longo do nosso passeio por Haight-Ashbury.
Em 1967, milhares de jovens – chamados de flower children – migraram para uma região que estava começando a desabrochar em São Francisco, hoje conhecida como Haight-Ashbury. Esse impulso migratório é reconhecido como The Summer of Love, pois quem queriam transcender os valores tradicionais vigentes, se mudava em busca de experiências de expansão da mente, uso de drogas recreativas e alucinógenas e pela expressão do amor livre. (Dizem até que esse bairro foi o primeiro ponto a receber uma clínica de tratamento universal e gratuito)
Haight-Ashbury virou residência fixa de nomes importantes que marcaram a onda hippie e a música no país como Grateful Dead, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jefferson Airplane. Logo, essa área, que atende pelo apelido de The Haight, passou a ser conhecida como o eixo do movimento de contracultura da Califórnia e preserva seu DNA até hoje.
A história do bairro está tão atrelada a esses grandes nomes da música que o edifício Doolan-Larson também teve um papel fundamental. Ele abrigou uma das primeiras lojas de roupas hippies da época chamada de Mnasidika, administrada – diz a lenda – por uma das amantes / amigas de Janis Joplin.
Supostamente, foi nesse endereço que Jimi Hendrix comprou aquele look emblemático de calça boca de sino (ou calça flare para os Gens Z) e colete. Também foi palco para sessão de fotos de Grateful Dead e hoje abriga seis vitrines diferentes. Para entrar ainda mais no clima do bairro, o The Metro Hotel é uma boa escolha para sair do circuito mais turistão da cidade.
O que visitar em Haight-Ashbury
Símbolo de criatividade, o passeio pelo bairro sem dúvidas se tornou meu programa favorito em São Francisco. Se eu pudesse definir essa área em poucas palavras, diria que é um reduto de artistas, com lojas com curadoria diferente, bares escuros de cerveja barata, casas vitorianas e algumas quadras cheias de livrarias, lojas de vinil, artigos fofos para decorar a casa e muitos brechós.
É lógico que cafés hipsters com plantas, pizzarias, burritos e hambúrgueres também são facilmente encontrados por ali.
O burburinho se concentra na esquina das ruas Haight-Ashbury, que passaram a ser conhecidas como Corner of Haight and Ashbury National Treasure após serem tombadas como patrimônio histórico pelo National Trust for Historic Preservation, algo como o nosso IPHAN.
Que tal um passeio guiado em São Francisco? Separei uma opção de passeio que entrega o melhor da cidade.
Amoeba Music
Me rendi aos discos de vinis e até hoje me arrependo por doar a coleção da minha mãe. E foi no meu primeiro ponto de parada, a Amoeba Music, que encontrei uma coleção gigante de discos dos mais diversos gêneros e estilos. A loja fica numa antiga pista de boliche e preserva um acervo espetacular, desde obras mais raras até lançamentos do mundo pop. Em dúvida? Troque ideia com um vendedor, o pessoal é ótimo de memória por lá!
Booksmith
Dizem que a Booksmith é uma das livrarias independentes mais queridas da cidade.
Com uma seleta coleção de títulos diferentes, é possível encontrar bilhetes com sugestões escritas à mão. Foi difícil demais resistir (a mala já tinha passado dos 23kg fazia muito tempo).
Fique ligado na programação de eventos, pois nomes como Neil Young, Patti Smith e Grateful Dead já apareceram por lá.
SF Mercantile
Pegue todas as Imaginarium que você conhece e transforme num lugar mais legal. Pronto.
Agora você já tem a SF Mercantile, uma loja cheia de presentes feitos por artistas de São Francisco. Queria trazer um de cada na mala? Mas com certeza!
Paraíso dos brechós
Para quem ama se perder garimpando peças diferentes nos brechós, Haight-Ashbury é o céu. Entre a Central Avenue e a Strayan Street, ficam vários endereços legais como a Relic Vintage e a Held Over. (O passeio pode ficar ainda mais divertido a bordo de uma kombi).
Derby Of São Francisco
Se você é do bonde que assistia De Volta para o Futuro ou Stranger Things, com certeza já deve ter visto uma jaqueta chamada “Derby”. Pois a original é figurinha carimba de São Francisco e seu criador escolheu essa área para abrir sua loja física que responde pelo nome de Derby San Francisco.
Aproveite para descobrir uma loja, um mural ou uma casa que seja a sua cara!
Como chegar até Haight-Ashbury?
O bairro de Haight-Ashbury fica próximo ao Golden Gate Park. As linhas 6 (azul) e 7 (verde) do tran têm uma parada em Haight St & Masonic Ave. Você pode combinar seu passeio com uma visita à Álamo Square e as famosas Painted Ladies ou com um piquenique / passeio no Golden Gate Park (próximo da loja de vinis fica um Whole Foods enorme). Para completar seu roteiro, ainda é possível fazer um passeio com foco em street art.
Esse trecho da viagem teve o apoio do San Francisco Travel Association