Antes de seguirmos juntos nessas próximas linhas, preciso te contar um quase segredo: sou aficionada por hotelaria e hospedagens. Gosto de hotéis que contam histórias, que nos abraçam e às vezes até nos tiram para dançar. Graças aos meus quase 17 anos de profissão, tive a dádiva de conhecer um pouco de tudo. Pelo menos era o que eu achava até chegar no Le Grand Mazarin, em Paris.

Então me deixe te apresentar um portal que se escancara para um mundo de realismo fantástico. Ele fica no Marais, em Paris, e atende pelo nome de Le Grand Mazarin. Mais do que uma imersão visual e sensorial, esse hotel é um desafio narrativo para textos de viagem que não carregam a mão em adjetivos. Por lá, eles são apenas superlativos.

Faltava pouco para retornar ao Brasil depois de um mês viajando sozinha pela França, cansada e cheia de malas (pessoal que viaja sem despachar bagagem, me desculpem! É impossível resistir aos mercados franceses), cheguei para fazer o check-in e o concierge me perguntou:

— Onde você chama de casa? Menos de três minutos depois, já tinha uma reserva para jantar e uma garrafa gelada de champanhe me esperando no quarto. Era hora da magia começar.

A primeira impressão que tive, ao abrir a porta, era que fora transportada para o universo do cineasta Wes Anderson. Mas eu não poderia ter sido a primeira pessoa a pensar nessa referência. Não mesmo.

Dito e feito. A própria Condé Nast Traveler, a Vogue do mundo do turismo, definiu o Le Grand Mazarin como “uma atmosfera de salão literário onde Wes Anderson encontra Alice no País das Maravilhas”. Como é mesmo aquele ditado em inglês? Isso mesmo! Great minds think alike.

Le Gran Mazarin e arte de uma história bem contada

Dando um baile de storytelling, o hotel foi inspirado nos salões literários que pipocavam no Marais durante o século XVII. Esses espaços costumavam reunir artistas e pensadores da época para o que hoje chamamos, com muito menos glamour, de “rodas de conversas”.

Arquitetura da alquimia

É impossível pensar no Gran Mazarin e não falarmos sobre arquitetura. O hotel respira a criatividade purgante do designer sueco Martin Brudnizki.

Nas palavras do próprio arquiteto:

“Fomos inspirados pelo conceito de salão, onde figuras da arte, literatura e música se reuniam em residências suntuosas, trocando ideias e pensamentos. Há uma sensação de colecionador em cada espaço (…)”

Engenhosidades maximalistas dão as mãos ao clássico francês banhado de muita cor. Isso teria tudo para dar errado em qualquer outro lugar do mundo, menos em Paris. Seu conceito abraça a história, o mundo das artes e literatura como só um endereço no Marais poderia fazer.

Le Grain Mazarin - recepçao

O escritório de arquitetura se preocupou em trabalhar com muitas empresas classificadas como Entreprise du Patrimoine Vivant (EPV é um selo governamental criado para distinguir as empresas francesas com um conhecimento único e excepcional). E esse resultado fica claro assim que conhecemos mais detalhes sobre a propriedade.

Arte por todos os cantos

Le Grain Mazarin - predio

Quinhentas obras de arte fazem parte do acervo do hotel, sendo integradas magicamente entre as áreas comuns e até mesmo nas suítes. A seleção ficou a cargo da Amélie du Chalard, uma galerista e curadora que trouxe aquela pitada de pimenta para o molho do Gran Mazarin.

As janelas para o pátio foram ilustradas pela artista Sophia Pega, que usou uma técnica chamada trompe-l’oeil que monta uma diferente perspectiva, criando uma sensação de ilusão de ótima. Já os tetos do bar e do restaurante receberam um trabalho exclusivo feito pelo Ateliers Gohard.

Por fim, o destaque vai para o afresco que toma todo o teto e desce pelos pilares que cercam a piscina que fica no subsolo. É algo único. O trabalho foi assinado por Jacques Merle e foi inspirado em Jean Cocteau, um artista francês multifacetado que marcou o século XX.

Le Grain Mazarin - SPA

Le Grain Mazarin: sonho de uma noite de verão

Suíte

Um dossel dramático dita o tom do meu quarto, que consegue destacar símbolos históricos excêntricos e ainda dialoga com itens de bem-estar modernos. Ele lembra o estilo de tapeçaria Aubusson, tradição nascida na cidade francesa homônima. As luminárias foram feitas sob medida e muitos itens de decoração foram garimpados em feiras de antiguidade, deixando todo o conceito ainda mais original.

Le Grain Mazarin - detalhes da decoração do quarto

Outro detalhe me chamou a atenção: o cuidado com a seleção das marcas que complementam o ambiente da suíte. Por exemplo: o café oferecido para os hóspedes nos quartos é da marca Joyeux, uma rede de cafeterias francesa que empresa pessoas com deficiência. E quando o assunto são as amenities, nomes cobiçados como Diptyque, Tata Harper e Augustinus Bader dão seus shows na hora do banho.

Nunca uma noite num hotel passou tão rápido quanto aqui.

Gastronomia

Espaço muito cobiçado pelos próprios parisienses, o restaurante Boubalé oferece um menu assinado por Assaf Granit, chef israelense premiado. Inspirado nos pratos típicos da culinária judaica do Leste Europeu, também conhecida como cozinha Ashkenazi, ele trabalha com ingredientes frescos e apresentações diferentes que nos levam para sabores inesperados.

O Le Bar também é outro ambiente disputado. Aqui, drinks autorais e aperitivos deixam a noite mais perfeita. E de quinta a sábado, ainda é possível aproveitar as apresentações de músicas no Library Bar, um lugar quase secreto no hotel.

Le Grain Mazarin - restaurante

Infraestrutura

Inaugurado em 2023, o Gran Mazarin fica num prédio histórico do século XIV e tem apenas 61 quartos. Nem hotel-boutique, nem hotel de rede. Ou seja, na medida ideal para ser reconhecida pela equipe e não se perder pelos corredores.

Além das suítes, do restaurante e do bar, o hotel ainda tem um SPA, uma academia, jacuzzi, hammam e uma piscina coberta, raridade em Paris.

A academia merece seu destaque: é difícil ter a oportunidade de praticar atividade física num ambiente tão cheio de personalidade. Até eu, a rainha envergonhada do sedentarismo, fiquei com vontade de aproveitar as bicicletas de spinning.

Le Grain Mazarin - academia

SPA

Sob a abóboda mais artística da Europa desde a pintura da Capela Cistina, o SPA divide uma área no subsolo com a academia, jacuzzi e a piscina. O espaço de relaxamento é famoso por oferecer massagens que seguem o método Anne Cali, uma profissional na área de bem-estar que desenvolveu técnicas especiais de massagem e drenagem linfática (confesso que fiquei com vontade de testar).

Le Grain Mazarin = piscina

Serviços

Pode parecer que estou rasgando seda, mas preciso falar sobre o nível de serviço do Le Grand Mazarin. Impecável, ao mesmo tempo, amigável e cortês. E por que isso vale uma nota de destaque? Muitos hotéis de altíssimo padrão criam um ambiente quase opressor, um lugar de não pertencimento, cujos funcionários chegam a soar aristocráticos. E aqui o oposto acontece.

Atenção máxima aos detalhes (me atrasei para o jantar e, quando cheguei na recepção, o concierge já tinha avisado o restaurante) até um jesto de simpatia espontânea da equipe durante o café da manhã. Quisera eu encontrar esse tipo de cuidado em outros lugares.  

Le Grand Mazarin e famílias

Eclético e singular, o Gran Mazarin também está bem-preparado para receber famílias com crianças e bebês pequenos. Ursinho de pelúcia, berço e até ammenities infantis fazem parte da atenção aos detalhes. O melhor de tudo? O concierge está pronto para oferecer sugestões de Paris para os petits.  

Le Grain Mazarin - amenidades

Localização

O hotel nos proporciona uma vivência quase extravagante de história e arte bem no coração do Marais, um bairro clássico de Paris. Ele fica na esquina da Rue des Archives e Rue de la Verrerie, próximo de marcos da capital francesa como o Museu Picasso, o Museu Carnavalet, o Centro Pompidou e a Tour Saint-Jacques. A Rue de Rivoli e o Hôtel de Ville (a prefeitura da cidade) ficam a um quarteirão de distância.

O Marais é meu lugar favorito para se hospedar em Paris. É onde Paris encontra Paris. Entre galerias, antiquários, vitrines de estilistas e bistrôs, é puro charme. É um bairro com alma boemia e DNA francês. O Le Grand Mazarin não poderia ter escolhido endereço melhor para chamar de casa.

Maisons Pariente: o nome por trás do conceito

O Grand Mazarin é o quarto hotel do Maisons Pariente, um grupo hoteleiro que eleva o conceito de hospitalidade francesa a novos patamares. Completam esse quarteto o Crillon-le-Brave em Provence, Le Coucou em Méribel e Lou Pinet em Saint-Tropez.

A título de curiosidade, o restaurante do hotel leva o nome de Boubalé que em iídiche (língua germânica das comunidades judaicas da Europa Central e Oriental) quer dizer “minha bonequinha, minha queridinha”. Essa era a forma carinhosa como as cofundadoras do grupo costumavam ser chamadas por suas avós.

O Grand Mazarin é para…?

Ele é o meu número. Criativo e diferente, o Grand Mazarin é perfeito para quem gosta de design, de ouvir uma história bem contada e para quem busca a essência de Paris que vai muito além da Fashion Week. Não vejo a hora de poder voltar.

Le Grain Mazarin - suite

Natalie ficou hospedada no Grand Mazarin a convite do hotel.