Fiz recentemente uma road trip pela califórnia a convite do Visit California, representando o Sundaycooks, e você, caro leitor, já teve a oportunidade ver quase tudo sobre essa jornada em meus posts anteriores. Pois bem, no final da viagem, me deparei com um dilema. Tinha apenas dois dias em Los Angeles. Como desvendar uma metrópole gigantesca em tão pouco tempo?
Um roteiro de dois dias em Los Angeles para sair de lá satisfeito
Saiba que, se por um lado é impossível conhecer a maior cidade da Califórnia de forma tão rápida, por outro, dá sim para curtir muito bem esses dois dias e sair de lá satisfeito. O segredo é misturar em doses certas o tradicional e o inusitado.
Leia este post ouvindo (você entenderá porquê):
Faça um city tour por Los Angeles
Minha dica inicial pode fazer os mais “descolados” torcerem o nariz: faça um city tour naqueles ônibus turísticos tradicionais. Sim, deixe o preconceito na calçada, pague US$ 74 e embarque numa jornada pelos pontos principais da cidade em um veículo de dois andares da Starline Tours.
O tour é no estilo hop on, hop off,oOu seja, você pode desembarcar onde bem entender para conhecer melhor cada local e, depois, tomar outro ônibus da mesma linha, simplesmente apresentando o ingresso ao motorista, sem qualquer custo extra.
O tour mais básico tem 5 horas de duração e permite que você tenha um contato inicial rápido com Los Angeles para escolher onde quer gastar o resto do seu tempo por lá.
Eu recomendo a opção Grand Tour of Los Angeles – Morning and Mid-morning Services. Ela inclui os pontos mais famosos, como a Hollywood Boulevard – com sua célebre Calçada da Fama e o Teatro Chinês -, Beverly Hills, o Farmers Market, o LA County Museum Art (LACMA), a Melrose Avenue, a Sunset Strip e muitos outros.
Não deixe de conferir o CityPass, um passe que dá entrada com desconto nas atrações de várias cidades e que vale realmente a pena. Veja as ofertas aqui.
Universal Studios, a autêntica
Uma vez que você tenha seu contato inicial com a cidade, vá ao que interessa! Se é a sua primeira vez em L.A., um passeio obrigatório é o Universal Studios Hollywood (US$ 85). Os estúdios de cinema inaugurados em 1915 continuam em funcionamento até hoje, mas viraram também um enorme parque de diversões, bem à moda americana.
Você pode estar pensando: “Mas não tem um parque da Universal em Orlando?” Sim, tem. E é bem maior, mas o de Los Angeles é mais autêntico. Pelo menos essa foi a minha sensação.
Ali, de fato, acontecem as gravações de diversos filmes e shows de TV. E, mesmo menor em tamanho, as atrações não deixam a desejar, sobretudo para as crianças. Achei divertidíssimo o simulador em 3-D Despicable Me: Minion Mayhem, inspirado na série de animação Meu Malvado Favorito. Assim como a montanha russa em 3-D dos Transformers e a aventura Jurassic Park Ride.
Sem contar as áreas temáticas dos Simpsons, que são muito caprichadas, e o Studio Tour, que leva o visitante aos locais onde foram filmados clássicos como De Volta para o Futuro e Guerra dos Mundos e também onde, até 2013, foram gravadas cenas, por exemplo, da série Desperate Housewives.
São 45 minutos de uma jornada cheia de efeitos especiais e história que, para mim, são a melhor parte do parque temático.
Único cuidado: há lojas e mais lojas de brinquedos e tudo que é tralha, por isso, se você viaja com os filhos, prepare-se para esvaziar a carteira 😛
Cavalgando pelas colinas
Se o passeio pelo parque temático da Universal lhe parece muito clichê, então aqui vai uma dica totalmente fora do usual: andar a cavalo em Hollywood.
Calma! Eu não saí galopando pela Sunset Boulevard ou na Calçada da Fama. A ideia é trilhar uma região cheia de natureza que leva ao famoso letreiro. Isso porque, a menos de dez minutos de carro do coração do bairro, surgem as Hollywood Hills, com seu jeitão agreste e, acredite, verdadeiros ranchos daqueles que vemos em filmes.
O que eu visitei se chama Sunset Ranch e foi fundado em 1929. Desde então, ele oferece diversos tours a cavalo de dia, à noite, com almoço incluído ou não, para quem quer fotografar a cidade do alto e até mesmo para aqueles que desejam realizar pedidos de casamento em um ambiente nada convencional #oportunidade
A opção mais básica tem uma hora de duração e custa US$ 40 por pessoa. Não é preciso saber andar a cavalo, pois há animais específicos para os iniciantes, sempre mais dóceis e menores.
Se você gosta desse tipo de diversão, vai adorar. Em alguns momentos, as trilhas se estreitam e a contemplação da natureza da lugar à adrenalina, com desfiladeiros enormes a centímetros de suas patas – ou melhor – das dos cavalos!
Na minha opinião, a vista do letreiro de Hollywood em si é o que menos empolga. O mais legal é poder fazer belas fotos da urbe lá embaixo. Certamente não há um ponto de vista mais abrangente de toda a região.
Onde ficar em Los Angeles e o transporte público
Cansou só de pensar na cavalgada? Bem, eu também. E aí entra uma faceta bacana da Los Angeles dos dias de hoje: a hotelaria. Como qualquer metrópole, ela oferece milhares de alternativas, das mais baratas às mais perdulárias.
Eu fiquei hospedado em um dos hotéis boutique que estão cada vez mais bem cotados na cidade. O hotel Wilshire, da rede Kimpton, fica num dos lugares mais agradáveis de Los Angeles, em plena Wilshire Boulevard, ao lado do LA County Museum Art (LACMA), pertinho de Beverly Hills e de diversas atrações.
Charmoso e aconchegante, ele tem quartos muito amplos, modernos e – como era de se esperar nos Estados Unidos – dotados de toda a estrutura para quem viaja também a trabalho, com wi-fi incluso na diária, tomadas estrategicamente distribuídas para você recarregar seus equipamentos eletrônicos (alô hotéis do Brasil, que tal lembrarem desse detalhe?), frigobar com produtos orgânicos e até mesmo antessala e banheira.
O que mais me agradou foi a piscina e o bar – ambos na cobertura, com uma vista muito bacana dos arredores. Para não falar na Hosted Wine Hour, um happy hour com degustação de vinhos gratuita para hóspedes.
Uma das coisas boas de ficar no Wilshire foi a proximidade com vários pontos de interesse que compõem um roteiro rápido e agradável na cidade. A começar pelo já citado LACMA, seguindo para o The Grove, um gigantesco complexo de compras e entretenimento a céu aberto, inaugurado em 2002.
São menos de dez minutos de carro para as principais atrações. Por sinal, se você gosta de dirigir, considere a possibilidade de alugar um automóvel. L.A. é uma cidade feita para as quatro rodas, ainda que o sistema público de transporte tenha melhorado muito nos últimos vinte anos (há passes semanais que custam US$ 25 e dão direito a usar metrô e as principais linhas de ônibus).
Mesmo que você não seja dos mais consumistas ou que o dólar esteja pela hora da morte, vale a pena conhecer o The Grove. O lugar foi todo projetado em estilo art déco e até mesmo um bondinho dos anos 1950 foi restaurado e ali implantado para facilitar o deslocamento dos visitantes.
Parece mais um parque do que um shopping center. Em boa parte graças às fontes de água que, de hora em hora, protagonizam um show com música, inspirado no famoso espetáculo do cassino e hotel Bellagio, de Las Vegas.
Onde comer em Los Angeles
Depois de um city tour, uma cavalgada, uma visita a um museu de arte moderna e um passeio de compras, nada mais justo que fazer uma boa refeição 😉 Seria absolutamente impossível mencionar aqui todas as possibilidades, mas eu tenho duas dicas para você fechar com classe uma passadinha rápida por Los Angeles.
De dia, a pedida é ir ao Original Farmer’s Market, bem ao lado do The Grove. Inaugurado de forma humilde em 1934, o “mercadão” rapidamente virou mania entre artistas de Hollywood quando queriam ter uma refeição mais informal, sem se preocupar com salto altos e gravatas. Há célebres fotos de Marilyn Monroe participando da inauguração de uma doceria, em 1953, assim como de Frank Sinatra devorando pedaços de pizza em um dos balcões do lugar, nos anos 60.
Declarado patrimônio histórico da cidade, hoje ele abriga mais de 100 restaurantes e lojas de produtos alimentícios. Você acha de tudo: de pierogies russos a noodles tailandeses, passando, é claro, pelo melhor da junk food americana. Tem até um restaurante brasileiro, o Pampa’s Grill. Eu optei por experimentar a pedeh, uma versão grega da pizza, sem molho de tomate e com ingredientes inusitados, como brócoli e ovos moles por cima, na barraquinha do Moishe’s.
O que mais me marcou, contudo, foi a divertida loja de pimentas Light My Fire (literalmente, “Acenda Meu Fogo“). Ela oferece dezenas de tipos de condimentos do mundo todo, inclusive uma linha americana com nomes tão ardidos quanto os próprios temperos. Coisas como “Burn in Hell, Osama” (Queime no Inferno, Osama!), dedicada a Bin Laden, ou “Ass in Hell” (bom, melhor não traduzir >.<”).
Se você quiser uma experiência mais sofisticada, a dica é ir ao Cleo, um restaurante egípcio de alto padrão, caprichosamente instalado nas dependências do Redbury Hotel – um ícone de Hollywood.
Veja o Cleo de Las Vegas no post abaixo:
A gastronomia árabe-mediterrânea reinventada do Cleo (abreviação de Cleópatra) coloca à disposição do seu paladar uma infinidade de pequenas porções, que vão de um simples pratinho de homus (US$ 7) ao intrincado Fitz Kelly Plums – prato feito de espinafre savoy, pistaches, queijo feta, aceto balsâmico e ameixas (US$ 11).
Eu experimentei quase tudo e adorei os kebabs – espetinhos de carne, frango e vegetais, deliciosamente temperados com zattar, tahine e outras especiarias do Oriente Médio.
Se esta for sua última noite em L.A., cuidado! A esbórnia gastronômica do Cleo pode lhe colocar em sono profundo e fazer você perder a hora do voo de volta para o Brasil.
Se bem que isso não é uma má ideia!
Confira os outros posts desta road trip pela Califórnia:
- Roteiro de dois dias em São Francisco
- Road trip pela Califórnia: de São Francisco a Carmel
- Road trip pela Califórnia: Big Sur, elefantes e castelos
- Road trip pela Califórnia: San Luis Obispo, o lugar mais feliz dos Estados Unidos
- Santa Barbara e o expresso do surfe
Paulo Mancha D’Amaro
É jornalista e comentarista esportivo dos canais ESPN. Foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 30 reportagens internacionais e ganhou em duas ocasiões o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Dirige o blog Viajando Por Esporte.
Fala-se espanhol com facilidade em LA? E a segurança?
Oi Noelio. Você deve conseguir falar espanhol na maioria dos lugares, mas não como na Flórida. A segurança em praticamente qualquer cidade dos EUA é bem melhor que as nossas, então se você agir como aqui, por lá estará tranquilo 🙂