No mês passado, nossa leitora Mari destacou alguns pontos interessantes sobre o IOF e as milhas do cartão no post Aumento de IOF: Qual seu verdadeiro impacto (você pode ver os comentários dela aqui). Como esse assunto é sempre pertinente, ainda mais em tempos de dólar alto, ela foi super solícita e aceitou nos enviar este post super completo discutindo um pouco mais sobre a questão de acumular milhas no cartão de crédito x valor do IOF x preço “real” das milhas.
Obrigado Mari pelo texto. Certamente será muito útil aos nossos leitores 😉
Vale a pena acumular milhas no cartão de crédito?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares 😉 Não há uma resposta exata para todo mundo, pois depende de vários fatores como o tipo de cartão de crédito que você tem, o valor das passagens que você quer, a época do ano e a sazonalidade da quantidade de milhas necessárias para cada trecho. Vejamos como analisar cada caso:
Me diga, quanto vale uma milha?
Alguém já vai responder: 1,61 km. Não, nada disso, na hora de comprar uma passagem com milhas acumuladas, quanto dinheiro uma milha substituiria?
Na verdade não há uma resposta direta, uma proporção fixa para esse questionamento. Cada passagem, cada horário, cada fornecedor tem seu valor.
Alguma lógica deve haver, pelo menos um guia superficial. Pensemos então da seguinte forma: uma passagem de ida para o exterior que custa R$1.000,00 é trocada, dependendo da época e da companhia, por 50.000 milhas, o que dá uma média razoável de R$ 0,02 por milha. Guarde esse número base 😉
Mas nem sempre é assim. Numa busca por passagens em uma mesma cia aérea, a passagem de ida estava sendo vendida por aproximadamente R$ 380,00, e a volta, por R$190,00. Já quando a escolha era adquirir essas mesmas passagens com pontos do programa de fidelidade, ambos os trechos custavam a mesma quantidade de milhas. Interessante, não? 🙁
Em outro caso, mesmo destino e mesmas datas, viajando com a cia A você gastaria mais dinheiro, enquanto que com a cia B, você gastaria mais milhas.
Bem vindo à terra de ninguém.
401(K) 2013 (CC BY-SA 2.0)
Já diria o ditado, milha sozinha não faz verão. Então de quantas milhas eu preciso?
Existem voos para todos. Desconsiderando as super promoções, vamos dizer que as passagens começam em 7000 milhas o trecho, e o céu é o limite, mas existe uma tendência de que quanto mais caro for o voo, melhor serão aproveitadas as milhas.
Infelizmente foi-se o tempo da tabela, onde qualquer passagem para terras tupiniquins, até pro réveillon, era trocada por 10.000 milhas. O negócio agora é sonhar com o destino, mas com um olho nessas variações.
E o bem bolado?
Para nossa sorte, não há nenhuma regra que nos impeça de quebrar o porquinho das milhas e sair atirando pra todo lado. Na verdade, isso pode ser uma ótima escolha: buscar o trecho mais econômico entre os concorrentes e fazer o melhor negócio.
E misturar milhas e dinheiro? Bom, essa pode dar mais dor de cabeça que misturar vodka e vinho
O objetivo de toda cia aérea é avião cheio, e aí começam os absurdos. Em voos nacionais essa situação não é tão comum, mas tente comprar um voo só de ida para qualquer destino do cone sul, há uma grande chance desse trecho custar mais que o bilhete de ida e volta. Justo? Quem falou que era pra ser. Portando usar milhas para visitar nossos hermanos somente se também tivermos milhas para a volta, combinado?
Então junte milhas, junte muitas milhas, mas pé no chão, pro voo não virar pesadelo.
Acumular milhas a qualquer custo?
Quem não adora ganhar um mimo? Pros amantes do mapa mundi, ganhar milhas é ficar mais perto da tão sonhada viagem. E ainda pensando que ela pode ser grátis!
Então a gente começa a escolher o banco, a livraria, o posto de gasolina, e até como gastar dinheiro no exterior baseado na possibilidade de acumular mais milhas no cartão de crédito. Lembra o personagem de George Clooney em Amor sem escalas? Seu objetivo era acumular 10 milhões de milhas para virar um cliente super VIP. Um reconhecimento para poucos.
Se é isso que você está querendo, mergulhe de cabeça, pois toda milha é um passo mais perto do seu status Diamond. Esqueça este post, e corra para pagar mais uma conta com o seu cartão de crédito 😛 Bom, em algumas cias, como a Copa Airlines, só são milhas classificatórias para upgrade de categoria de cliente aquelas que você ganhou voando :/
Agora se você está acumulando milhas para fazer a volta ao mundo só pagando taxa de embarque, é hora de fazer a contabilidade.
Quando fazemos compras aqui no Brasil, podemos dizer que as milhas são “grátis”, já que você não paga nenhuma taxa extra além da própria anuidade para usar o cartão de crédito.
Aposto que você não percebeu quando leu a última frase, mas o valor da anuidade do seu cartão pode inviabilizar o valor das milhas se comparado com um cartão sem anuidades. Por isso, ligue já para sua operadora de cartão e peça descontos nessa anuidade!
Em compras com o cartão de crédito no exterior, a conta já é diferente, pois além da anuidade, também pagamos o IOF de 6,38%, muito superior ao 0,38% do IOF cobrado nas operações com o cartão de débito.
Por outro lado, os banco têm autonomia para determinar o câmbio. Enquanto no crédio o valor do dólar costuma ficar um pouco acima do comercial, para o débito, o câmbio já está mais próximo do turismo.
Então, ao fazer compras no exterior, o que é melhor? Ganhar milhas no cartão de crédito ou pagar menos no cartão de débito?
Wonderlane (CC BY 2.0)
Como comentei antes, se substituirmos diretamente o preço da passagem por milhas, cada 1000 milhas valeriam 20 reais, mas para você guardar 1000 milhas você terá de gastar 1000 dólares (considerando um cartão que dá 1 milha por dólar).
Façamos então as contas considerando que você gastou 1.000 dólares e que na época o dólar estava valendo R$ 2,30 no cartão de crédito e R$ 2,34 no cartão de débito.
No cartão de crédito você pagaria um total de R$ 2.446,74 (já incluindo os R$ 146.74 do IOF) e você ganharia suas 1000 milhas.
Já no cartão de débito você pagaria R$ 2.348,89 (já com os R$ 8.89 referentes ao IOF), mas não ganharia nenhuma milha.
Uma diferença de R$ 100,00 reais para cada 1000 milhas, o que, economicamente falando, não valeria a pena.
Claro que existem diversos cenários que influenciam essa conta como a variação do dólar, a quantidade de milhas por dólar do seu cartão de crédito, a taxa de conversão para os pontos do seu programa de fidelidade e se você precisa dessas poucas milhas para completar a quantidade necessária para sua tão sonhada viagem à Paris. Acho que nesse último caso vale a pena pagar um pouco mais, não é? 😛
Minhas conclusões
Além da diferença de valor entre os cartões de débito e crédito, eu tenho outro motivo pelo qual evito o crédito: no nosso câmbio flutuante, tudo pode acontecer e o que vale mesmo para o cartão de crédito é o dólar do dia do pagamento da fatura.
Já vivi aquele momento de grande emoção quando você vê que está retornando dinheiro a sua conta porque o dólar caiu, mas também já vivi a tristeza de pagar mais devido ao aumento do dólar.
Pense na situação acima e imagine se a cotação do dólar subisse 20 centavos entre a data da compra e do pagamento da fatura. Surreal, não é? Foi o que aconteceu com quem comprou no começo de agosto deste ano e pagou no final do mesmo mês! Quem comprou no cartão de débito não teve esse problema.
Exemplos de conversões de milhas nos cartões de crédito
Também vale lembrar que não é todo cartão que converte diretamente suas milhas para pontos no programa de fidelidade. Por exemplo, no a cada troca de pontos do programa Sempre Presente do Itaú por pontos do Multiplus da TAM, você perde 20% dos pontos. E troca por passagens no próprio programa do Itaú é de chorar ainda mais 🙁
Com o Cartão de crédito Tam, você já pontua diretamente no Multiplus e não perde esses 20%, mas nesse caso é bem mais difícil ter isenção ou descontos na anuidade.
Já o Cartão do Brasdesco permite trocas para Fidelidade Multiplus sem conversão, diferentemente do que acontece com os cartões do Itaú.
A Mari é brasileira com um coração que pertence ao mundo. Trabalha com planejamento de distribuição, mas o que ela quer mesmo é distribuir o passaporte por novas fronteiras. Para ela todo lugar tem seu aprendizado e ela tem certeza que ainda vai dar a volta ao mundo com uma câmera na mão. Próxima parada: Uruguai.
E você? Gosta de acumular milhas ou prefere economizar um pouco mais nas compras?
Conta pra nós a sua estratégia 😛
Eu viajo bastante de milhas que ganho no cartão, adoro.
Gostei da reportagem.
bjs queridos
Obrigado, Carmo 😀
Excelente a máteria, é uma dúvida essencial mesmo, e está cada vez mais difícil fazer essa conta. Sempre fui adepto de jogar tudo no cartão de crédito por causa das milhas, mas esse ano me ferrei bonito pois fui viajar bem na época que o dólar estourou, e as taxas utilizadas pelas operadoras de cartão de crédito são uma loucura. Então, já comecei a reavaliar e concordo que os cartões de débito te dão mais segurança em relação aos gastos. E trocar milhas também já não está tão fácil ultimamente, né? Enfim, é preciso avaliar bem, o texto provocou uma ótima reflexão!
Obrigado, Fábio. Eu sempre usei o cartão, mas já estou repensando isso para o cartão de débito que tem algumas vantagens, mas também algumas desvantagens (o limite, por exemplo).
É Fabio, só que já perdeu na cotação pra entender essa dor… rs… Se você quiser, te envio uma tabela de simulação, bem facinho de ver o quão favoravel está cada opção, só não tem o fator de risco “alta do dolar”
Minha experiência recente disse que as milhas são ótimas para casos de emergência e/ou temporada, quando as passagens são absurdas. Viajei para Las Vegas a 40 mil milhas ida e volta pela American, e o aéreo estava em quase 4 mil reais. Nesse caso valeu a pena, mas isso não é muito padrão pra mim, já que aproveito as promoções de passagens para viajar.
post super interessante, e cada tipo de viajante é um tipo de viajante 😀
beijo!
É Dani, essa caso 4 mil reais versus 40000 milhas é nosso sonho de consumo, não? Fico mega feliz quando ouço esses casos, me dá mais esperança no acumulo de milhas.
A AA é minha favorita, o fato da data de expiração ir se renovando é muito sedutor, e é legal também lembrar que algumas vezes a TAM bota quantidade de milhas necessarias pra determinados trechos lá no alto, baseado certamente em um plano de demanda muito louco, e a AA nem se mexe… 🙂
O ruim da AA, até onde sei no BR o unico cartão que pontua direto com eles é do Citi. Enquanto o platinum deles pontua 1,3, o equivalente de outros banco pontua 1.5
além disso, tem outro fator importante: se as milhas expiram ou não. No Multiplus expiram em 2 anos, na American e Delta não expiram mais. Isso é importante na hora de decidir a compra de passagens, pra fazer melhor uso das suas milhas. Pelo menos eu acho
Beijo!
É verdade, Dani 😉 Tudo depende, na realidade de muitos fatores, quanto custa viajar com milhas, se seu cartão de crédito permite acumular em alguma companhia, data de expiração, taxa de conversão >.< é tanta coisa que às vezes eu simplesmente entrego pra Deus e torço pra dar certo 😛
Estou fazendo uma viagem com a minha família para Espanha e Portugal, vim com dois cartões um de crédito do banco do Brasil e outro de débito adquirido de uma casa de câmbio. Estou usando os dois cartões e pretendo assim que chegar a fatura do crédito comparar o valor e verificar a diferença e quantos pontos ganhei em milhas
Pois esta dúvida também e minha a muitas viagens .
Seria interessante ouvir essa experiência in loco, Roberto 🙂 Se puder contar depois pra nós, eu agradeço!
E em 2014 tudo mudou… IOF de 6,38% no cartão de débito, e o dolar que não volta pros R$ 2,00 nem em sonho. Aguém que viajou esse ano conseguiu comprovar a variação cambial entre débito e crédito?
Pois é, Mari :/ o governo sempre nos ajudando, não é? Eu ainda não fiz as contas, mas sempre compro com o cartão de crédito mesmo.
Fiz um cartão da Amex (green) que deu um ano sem anuidade, porém a taxa de conversão é ruim (US$1,00 = 01 milha). O esquema é encher o saco deles e sempre tentar um upgrade para um cartão mais “poderoso”, com uma taxa de conversão melhor. Negociar a anuidade também ajuda.
Já pensei várias vezes nesse cartão da TAM, pois você ganha em dobro se comprar passagens com ele, mas o problema é pagar anuidade logo de cara (talvez não valha a pena para quem viaja pouco).
Um dica preciosa é fazer alavancagem de serviços. Por exemplo, os postos Ypiranga tem um programa bom de recompensas. Você ganha em dobro se abastece sempre no mesmo posto. Colocando o tag deles ainda tem 5% de desconto no preço do combustível. Você abastece, paga com cartão e ganha 3 vezes numa só transação.
No ponto frio também aparecem umas promoções boas de pontos, mas tem que pesquisar bem se o preço do produto não está inflacionado perto da concorrência.
A grande sacanagem fica por conta da necessidade, em alguns lugares, de se pagar para transferir os pontos de fidelidade para o programa de viagens. Já vi taxas de R$ 100,00 por cada 10..000 milhas (um absurdo!).
Obrigado pelas dicas Pedro. Infelizmente está cada vez mais difícil conseguir gastar as milhas que acumulamos 🙁
Ótimo post! Fred, como faço para entrar em contato com a Mari para uma entrevista? Você tem o contato dela? bjs!
Carolina,
Esse post é de 2013, infelizmente não temos como passar o contato da Mari.
Será que podemos ajudar? 😉
Oi Carolina, tudo bem?
Estou a seu dispor, vamos conversar. 🙂
Abs,
Mari
Ótima matéria… Amo viajar, e ainda mais com milhas aéreas. Sempre estou em busca de manerias para acumular pontos no cartão de crédito mais rápido, no meu dia a dia. Recentemente, descobrir que podia vender minhas milhas, não sabia desse método.. alguns amigos me indicaram a EloMilhas onde já fiz 2 vendas, onde me deu uma ótima renda extra.. também indico para aqueles que não vão utilizar seus pontos.
Esta é uma opção também, né Mila 🙂