O noroeste do Peru guarda descobertas arqueológicas impressionantes que marcaram os estudos ancestrais em toda América. Trujillo e Chiclayo foram as cidades-base da minha viagem pela região. Se assuntos como múmias, escavações históricas e povos originários te interessam, sem dúvida, esse roteiro vai te conquistar. Abaixo, compartilho minha experiência em Chiclayo.
Por que Chiclayo?
Do dia pra noite, essa pequena cidade se viu no centro das atenções dos pesquisadores e arqueólogos do mundo todo. Logo passou a receber turistas querendo conhecer uma das maiores descobertas arqueológicas das últimas décadas: o Senhor de Sipán.
Em termos historiográficos, sua importância foi tão grande que comparam esse encontro com o mesmo momento que acharam a tumba do faraó egípcio Tutankhamun.
E, agora em 2025, a cidade vê novamente os holofotes do mundo todo se voltando para si. O novo papa da igreja católica, Leão XIV, serviu como bispo em Chiclayo, entre 2015 e 2023, e acabou até se naturalizando peruano.
Par conhecer mais sobre o legado do papa com coração peruano, vale visitar a Catedral de Chiclayo que também conhecida como Catedral Santa María. Toda construída em estilo neoclássico, ela é principais ícones religiosos do norte do Peru e fica em frente ao Parque Principal.
Fã de carteirinha da cozinha peruana, Robert Prevost também aproveitava os restaurantes de Chiclayo. Hoje, muitos já ostentam orgulhosos uma placa sinalizando que o novo papa já esteve por ali.
Onde fica Chiclayo?
Chiclayo fica no noroeste do Peru, a 770 km de Lima e tem pouco mais de 629 mil habitantes, sendo a quarta cidade mais populosa do país. É uma das cidades mais pobres que passei e a infraestrutura turística ainda está se desenvolvendo.
Como chegar a Chiclayo?
Aproximadamente 205 km separam Trujillo de Chiclayo, mas esse trecho relativamente curto pode durar cerca de 4 horas de ônibus, devido às condições das estradas, já que a maior parte delas tem apenas uma pista em cada sentido.
Ônibus
Sempre tento escolher a Cruz del Sur, uma das melhores companhias para viajar de ônibus pelo Peru. Como queria chegar cedo a Chiclayo para aproveitar o dia na cidade, madruguei no terminal da Emtrafesa.
O trajeto Lima-Chiclayo ou mesmo Lima-Trujillo também pode ser feito de ônibus, mas será uma viagem muito longa e eu não recomendo essa opção. São mais de 13 horas de viagem. Empresas como Transportes Chiclayo e Econociva operam esse trecho regularmente.
Avião
Também é possível chegar ou partir de Chiclayo de avião voando com a LATAM, JetSMART ou Star Peru. Tente incluir os trechos entre Lima, Chiclayo, Trujillo e outras cidades do Peru no mesmo bilhete da sua ida e volta do Brasil. Assim você pode conseguir descontos e garante que a franquia de bagagem seja a mesma para todos os voos.
Carro
Não vale a pena alugar um carro no Peru. O trânsito dentro das cidades segue um ritmo próprio e talvez isso gere mais stress para você do que comodidade.
Saúde no norte / noroeste do Peru
Embora não seja algo exigido, é recomendável ter o Certificado Internacional de Vacinação com a vacina da Febre Amarela, pois mais ao norte do país ainda é possível encontrar focos da doença. Também é indispensável um bom seguro viagem para quem quer viajar pelo Peru.
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Onde ficar em Chiclayo?
Os melhores hotéis para se hospedar em Chiclayo são hotéis de redes intermediárias que oferecem uma boa infraestrutura para os visitantes: quartos limpos, bom café da manhã e funcionários cordiais. Indico essas três opções na cidade:
Onde Comer?
Restaurante Pacífico Restaurant Gourmet e El Trébol Café foram as opções da vez e, apesar do nome “turístico”, as refeições foram boas e relativamente baratas.
Huamachuco 970, Chiclayo
- todos os dias das 10h às 17h
- Elias Aguirre 816, Chiclayo
- todos os dias das 7h às 23h
O que fazer em Chiclayo e na Rota Moche?
Sipán, Túcume, Huaca Rajada e Sicán são os principais atrativos da região e contemplam um roteiro turístico chamado de Rota Moche.
A dobradinha Trujillo – Chiclayo reúne as principais descobertas arqueológicas de culturas anteriores ao domínio Inca como os Moches, os Chimús e os Lambayeques. Este é, sem dúvidas, um roteiro diferente e muito rico em histórias pouco contadas de um passado que não pode ser esquecido.
Museu de Sicán
A menos de 20 km de Chiclayo, na pequena cidade de Ferreñafe, o Museu de Sicán foi inaugurado em 2001 e mostra detalhes da cultura Sicán (também conhecida como Lambayeque), uma civilização pré-inca que, segundo alguns estudiosos, sucedeu ao povo Moche.
O acervo do museu é rico e mostra diferentes aspectos da vida doméstica, dos processos de manufatura (dominando técnicas de metalurgia) e dos cultos e crenças desta civilização que também preservava uma forte adoração à noite e aos símbolos noturnos.
Algumas salas mostram como estavam as tumbas descobertas na região e todas as indumentárias encontradas. O museu também conta detalhes sobre o processo de escavação, pesquisa e preservação da memória da cultura Sicán / Lambayeque.
Começar o tour por aqui foi interessante para introduzir todo o contexto do que seria visto nos sítios arqueológicos como Túcume, Huaca Rajada e no Museu Senhor de Sipán.
- Av. Batán Grande Cdra 9 Carretera Pítipo
- adulto: 8 sólis
- de terça à domingo, das 9h às 17h
- fechado às segundas-feiras
Túcume: o vale das pirâmides ainda não descobertas
Do Museu de Sicán, segui para Túcume, uma região que é base de pesquisas e escavações arqueológicas. Em meio ao clima árido, muitas ruínas e tesouros perdidos ainda estão encobertos pela vegetação nativa.
Devido à ação do tempo – e dos saqueadores, infelizmente – é preciso um pouco de imaginação para tentar visualizar como seriam as pirâmides e a vida nesse ponto do Peru cobertos por tanto adobe.
Essa região foi importante para a cultura Sicán / Lambayeque, afinal esse era um grande centro administrativo. Estimasse que essa área abrigava cerca de 26 pirâmides ao longo de todo o perímetro. Se você prestar atenção, irá notar diversos “morros” e cada um deles era uma pirâmide.
Esses são dois dos passeios mais legais na região de Chiclayo para quem quer aprender mais sobre a cultura Lambayeque e sobre as grandes descobertas arqueológicas do nosso tempo.
Minha dica é fazer esse tour com um guia, de preferência particular, para poder entender melhor o que encontramos por lá. Sem contar que você pode dar a sorte de passar por estradinhas perdidas perto dos rios e canais Moche encontrados na região.
- Acceso al Museo, Túcume 14120
- de terça à domingo, das 9h às 16h30
- fechado às segundas-feiras
Senhor de Sipán e Huaca Rajada: o ponto alto da viagem para Chiclayo
Assim como a chegada a Machu Picchu é a cereja do bolo do roteiro entre Cusco e o Valle Sagrado, conhecer a Huaca Rajada, sítio onde o Senhor de Sipán foi encontrado, e o Museu Tumbas Reales de Sipán, local onde estão expostas as peças mais importantes dessa descoberta, é o ponto alto da viagem entre Trujillo e Chiclayo.
Huaca Rajada: onde foi encontrado o Tutankamon americano
O Museu Huaca Rajada / Senhor de Sipán foi inaugurado em 2011 (não confunda com o Museu de Sicán) e mostra alguns dos objetos que foram encontrados durante a escavação dos 16 túmulos encontrados na região. No museu também conhecemos a história do “Sacerdote Guerreiro”, encontrado em 2007.
Para o mundo arqueológico, essas descobertas são tão recentes que os pesquisadores ainda não conseguiram chegar a um consenso se o desenho moche que vi durante a visita à Senhora de Cao, em Trujillo, representa mesmo aquela sacerdotisa ou o Sacerdote Guerreiro. Dizem que será preciso mais 400 anos de trabalho arqueológico e de intensas pesquisas para compreender completamente todos os significados desta região.
O grande barato de visitar a Huaca Rajada é ver de pertinho mais de 700 anos de história ainda praticamente inexplorados. Essa Huaca, ou sítio arqueológico, é tida como um grande cemitério da elite do povo Moche. E foi ali que a maior descoberta da arqueologia peruana, e quiçá americana, foi encontrada.
O Senhor de Sipán foi encontrado em uma sepultura que ainda estava intacta, caso inédito na arqueologia da América Latina. Foi considerado um grande marco: pela primeira vez, pesquisadores encontraram uma cripta/tumba completa de uma figura de liderança da civilização pré-hispânica.
Na foto você pode perceber como foi encontrado o Senhor de Sipán: todas as indumentárias, as oferendas, os vasos cerimoniais e até mesmo as esposas e seguranças foram enterrados juntamente com ele. A Civitatis oferece um passeio de dia inteiro pela região (e ainda pode parcelar em reais!)
Museu Tumbas Reales de Sipán
Inaugurado em 2002, o prédio construído para o Museu Tumbas Reales de Sipán é uma réplica de uma pirâmide moche, mas não é permitido tirar fotos dentro dele.
Vale à pena conhecer algumas características importantes para compreender o contexto sobre os Moches: eles viveram entre os séculos I e VI na costa norte do Peru e trabalhavam como agricultores, pescadores, artesões e guerreiros. Como eles não tinham domínio da escrita, todos os conceitos eram expostos em suas cerâmicas e desenhos.
Essa civilização também adorava a noite e seus símbolos. A compreensão dos seus arredores, chamada de cosmovisión, consistia basicamente em dividir nosso mundo em três níveis: o inframundo, o mundo dos vivos, e o céu, representado pela serpente celestial. Essa divisão do mundo também pode ser vista, coincidentemente (ou não) em Teotihuacán, no México.
Também dizem que os mochicas acreditam ser capazes de ler e prever o futuro jogando uma espécie de búzios com grãos de feijão. Estudos indicam que o sexo não era visto como pecado para os moches, por isso tantas peças com desenhos e símbolos fálicos foram encontrados (é possível ver muitos exemplares no Museu Larco de Lima). Para os pesquisadores, a ideia de transgressão e culpa com relação ao sexo chega apenas com os incas e com os espanhóis.
Visitar a cripta, até então, intacta do Senhor de Sipán na Huaca Rajada e depois ver os objetos encontrados lá no museu é algo realmente fantástico. O processo de restauro foi feito com tamanha cautela que é difícil acreditar como todas aquelas peças sobreviveram tão bem à ação do tempo.
Preste atenção aos detalhes e aos objetos cuidadosamente elaborados que envolviam o Senhor de Sipán e repare que os principais de adorno sempre estavam em números pares. Essa simbologia era usada para indicar que o Senhor representava o ponto de equilíbrio do universo.
Saques e roubos de peças históricas
O roubo de artigos arqueológicos tem sido um problema constante e sério no Peru.
Alguns casos que nos contaram me chamou a atenção: peças roubadas dessa região foram encontradas em 1994 em um leilão de antiguidades na Philadelphia; enquanto outros artefatos já foram localizadas em galerias de artes em Nova York, no aeroporto de Miami e até mesmo no pescoço de uma alemã que tentava sair do país e seguir viagem para Frankfurt.
O guia ainda me contou que eles acreditam que boa parte do acervo do Museu Larco sobre os moche foi adquirido de contrabandistas. É impossível imaginar e calcular o tamanho do dano e do prejuízo que esses tipos de saques podem ter causado aos estudos arqueológicos do norte do Peru.
Como nos outros passeios, tours guiados são recomendados para que você possa entender o contexto, a história dos povos pré-incas e essas magníficas descobertas arqueológicas.
Muito bom. Vou viajar para Cusco, MP, Lima e Chiclayo nas minhas férias em janeiro de 2015. Temos parentes em Chiclayo. Gostei das dicas, principalmente quanto ao transporte.
Grato.
Disponha 🙂 Espero que goste da região! Se puder voltar e nos contar como foi, nós agradecemos.
Gostaria de receber novos comentários por email, se possível de Lima, Quito, Guayaquil, Cotopaxi, Mitad del Mundo e Bogotá. Eu e minha esposa iremos em janeiro de 2015. Grato.
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