Tomar mojito em Cuba é como beber caipirinha no litoral brasileiro ou provar pisco sour no Peru: obrigatório. Não gosto desse termo “obrigatório”, é usado demais. Além disso, nada é obrigatório em viagem. Mas não posso negar que beber um mojito em Cuba tem apelo irresistível, porque o drink está em todo lugar e tem certa qualidade fresca e vívida que marcas de rum mundo afora não conseguem reproduzir.
Não é clara a origem do Mojito. É uma mistura geladinha de rum, folhas de menta (ou hortelã), gelo, limão e açúcar. Uma lenda dá a paternidade do drink ao pirata inglês Francês Drake, que teria pedido aos nativos caribenhos uma receita para combater o escorbuto da tripulação dos navios e recebido uma medicina de aguardente de cana temperada com suco de limão e ervas.
Outras pesquisas históricas ligam o Mojito aos escravizados das ilhas, que bebiam uma mistura similar parecida nas plantações de cana de açúcar. O que de fato se sabe sobre o Mojito é que o drink é um favorito em Havana desde os anos 1930 e hoje é bebido no mundo todo, muito por culpa de marcas de rum que espalharam sua receita cítrica e fácil de beber.
Eu só estive em Havana uma vez. Lembro pouco da viagem, pelo anuncio do Fidel de passar o comando da ilha para o seu irmão, Raul Castro. Foi uma viagem impactante, como acredito que deve ser qualquer viagem para Cuba fora dos resorts esquema all inclusive. A minha viagem para Havana teve estadia em casa de família, um tipo de hospedagem comum, barata, e segura.
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Teve almoços em restaurantes caseiros populares (os paladares) e passeios pelo Malecón, a esplanada na beira do oceano onde quase tudo acontece. Teve longas conversas com condutores de carros caindo aos pedaços, teve espertinho tentando me vender charutos na rua, teve sorvete na Copalia, teve passeio em coco-táxi, teve beber café preto lendo periódico estatal, teve visita ao ICAIC (Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos) e teve ver apresentação de jazz-salsa ao vivo num bar qualquer que é até hoje uma das melhores coisas que já ouvi na vida. Também tinha que ter Mojito. Ou Mojitos, no plural.
Provando um mojito em Cuba
Queria tomar Mojito onde o Hemingway tomava. A bem da verdade, eu ainda não era uma grande leitora de suas obras, mas em 2007 já sabia que queria ser escritora na vida e portanto queria entrar no La Bodeguita Del Medio, em Havana Vieja, para ver o lugar onde algumas das Grandes Personalidades do Século XX (além de Hemingway: Salvador Allende, Nat King Cole) tinham tomado dezenas desses drinks cítricos e refrescantes que se tornaram parte do ideal cubano no mundo.
Meu companheiro de viagem não estava muito interessado no rolê turístico-literário – o lance dele era mais Museu da Revolução e conversar nas ruas sobre a transição de poder dos irmãos Castro. De forma que acabei caindo sozinha na Bodeguita, que também é um restaurante de comida cubana tradicional com shows de salsa ao vivo.
O culto ao escritor, a bem da verdade, é mais ligado ao Floridita, famoso pela estátua de bronze do Hemingway no balcão e pelos Daiquiris.Não tive coragem de tirar cartaz onde Hemingway rabiscou uma homenagem aos seus dois bares preferidos e seus drinks (“Mi mojito en La Bodeguita y mi daiquiri en el Floridita“). Mas pedi e tomei meu mojito no preparo simplificado e em série do bar numa tarde quente de um dia útil qualquer, entre poucos frequentadores e sem aparição da banda de salsa.
Sentei numa mesa perto da porta, mas certa de que a inspiração não estava ali, assim como não estão nos bancos dos cafés de Paris onde outros autores célebres rabiscaram palavras em papel, assim como não está na mesa redonda (que não é redonda!) do Algonquin em Nova Iorque.
Eu levaria alguns anos ainda para ler Hemingway direito, e não teve nada a ver com Havana – foi pelos relatos de viagem da Martha Gellhorn na China, onde, tenho certeza, hoje também se bebe mojito.
Como fazer um Mojito?
Peguei essa receita do Richard Godwin, autor da newsletter etílica The Spirits (em inglês).
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- Gelo moído (pode ser em cubos, se estiver mais fácil, mas moído é melhor)
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- Cinco ou seis folhas de menta (ou um ramo cheio de hortelã)
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- 50ml de rum branco
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- 25ml de suco de limão
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- 15ml de xarope de açúcar
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- Gotas de Angostura bitters (opcional)
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- 100 ml de água com gás
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- Encha um copo alto com o gelo moído e coloque no freezer.
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- Coloque as folhas o xarope de açúcar no fundo da coqueteleira e mexa um pouco (mas não muito, as folhas ficam amargas quando partidas).
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- Adicione rum, o suco de limão, a angostura e um pouco de gelo e misture.
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- Coloque tudo no copo gelado, preencha com água com gás e misture com uma colher alta, com cuidado. Sirva com um canudo e decore com folhas de menta (ou hortelã).
Empedrado 207 (perto da Catedral de Havana)
Todos os dias, das 10h30 às 23h30
Entre US$3 a US$11. O Mojito custa cerca de US$5.
Rua Obispo, 557 (perto do parque Central)
Todos os dias, das 12h à 1h
Entre US$2 a US$20. O Mojito custa cerca de US$4.
Gaía Passarelli é escritora paulistana, autora de “Mas Você Vai Sozinha?” (Globo Livros, 2016) e da newsletter “Tá Todo Mundo Tentando”. Encontre-a em gaiapassarelli.com