Turismo Ufológico: roteiros de viagem em busca de alienígenas

Turismo ufológico: estamos sozinhos no Universo? Existe vida fora da Terra? Se sim, será que já tivemos a honra de receber visitas desses moradores de sistemas planetários distantes? Ou seriam nossos vizinhos próximos os tais dos marcianos e jupterianos? Como são? Do que vivem? Como se reproduzem? Como chegaram até aqui?

Estudiosos, pesquisadores e curiosos interessados em ufologia movimentam um singular setor do turismo dedicado aos mistérios interplanetários e seus possíveis habitantes.

Austrália: ETs do outro lado do mundo

Muito distante das urbanas e costeiras Melbourne, Sydney, Brisbane, Perth ou Adelaide, centenas de turistas circulam pela Austrália entre maio e outubro, durante a temporada de seca no país. Mais especificamente, esses viajantes buscam uma parada na região desértica, entre as cidades de Tennant Creek e Alice Springs, em um pequeno parque chamado Wycliffe Well.

O que faz com que tantos deixem de lado as paisagens paradisíacas da Austrália para uma incursão pela região central do país é o status dessa hospedaria: a capital australiana dos OVNIs. Segundo a administração local, uma vez lá, é mais fácil presenciar a aparição de um objeto voador não-identificado do que passar uma noite acordado em vão, tamanha frequência dos sobrevoos que os nossos colegas interplanetários fazem por ali.

A mística se explica por conta de um caderno que esteve no local até 1990, quando foi roubado. Tratava-se de uma espécie de diário em que combatentes da Segunda Guerra Mundial relatavam aparições de OVNIs na região.

Em Wycliffe Well, ainda que você não veja nenhum homenzinho verde pilotando uma nave, uma visita ao parque – que tem quartos e área de camping – provavelmente irá lhe garantir uma bela sessão de observação astronômica.

Chile: por onde andam os alienígenas?

Há vida fora da Terra? Estamos sozinhos nesta galáxia?

As respostas para essas perguntas podem ser buscadas, digamos, um pouco mais perto em relação à região desértica da Austrália. Antes de atravessar o mundo, quem se interessa por turismo ufológico – esse segmento de viagens para observar OVNIs ou conhecer regiões que, supostamente, houve algum contato entre homens e seres extraterrestres e acontecimentos misteriosos – pode encontrar no Chile um destino privilegiado.

Muito disso se deve a sua geografia e aos céus virgens da região. Não à toa, o país também tem grande proliferação de observatórios e centros astronômicos, tendo um papel primordial para a astronomia global. A crença do contato entre as civilizações pré-colombianas e extraterrestres também alimenta o interesse da população pelos ETs. Com efeito, o próprio estado chileno promove o turismo ufológico na região.

Próxima do Vale do Maule, região com muitas vinícolas no centro do Chile, está uma das cidades mais buscadas quando o assunto é o encontro com seres de outros planetas. Na Reserva Nacional Altos de Lircay fica o Enladrillado, uma plataforma geológica composta de aproximadamente 200 blocos vulcânicos. Há quem diga que instalados por civilizações antigas, há quem diga que por civilizações interplanetárias, com intuito de utilizar o local como plataforma de aterrisagem.

Além de tirar a prova de perto, a visita à reserva, que pode ser feita a cavalo, de bicicleta ou a pé, é um passeio em meio a natureza, com observação das ricas fauna e flora chilenas.

Entre as montanhas da Cordilheira dos Andres, está a região do Cajón del Maipo, onde, segundo os ufologistas, há relatos de diversos avistamentos. O mais popular deles aconteceu em 1997 quando um montanhista relatou o pouso de uma enorme luz na água, seguido da aparição de dois seres desconhecidos.

Os moradores, inclusive, fomentam os boatos. A maioria dos que vivem próximos da região já relatou ter visto luzes misteriosas, figuras humanoides circulando e fenômenos inexplicáveis ocorrerem. Mais uma vez, vemos a predileção dos ETs que nos visitam por belas paisagens. Afinal de contas, Cajón del Maipo é um destino de ecoturismo, com lindas lagoas, montanhas e pequenos restaurantes – muito próximo, inclusive, da capital Santiago.

Já ao norte de Santiago fica outro destino de turismo ufológico no país: o Vale do Elqui. Muitos chilenos atribuem à região, que fica aos pés da Cordilheira, um ar místico. Mesmo a interpretação mais pé no chão da energia da região tem um quê de metafísica. Isso porque muitos vão ao vale em busca de um tempo fora das cidades, com o intuito de renovar as conexões espirituais e o equilíbrio do chacra.

A versão ainda mais metafísica fala sobre um portal para outra dimensão. Narrativa que é sustentada por diversos relatos de aparições, objetos voadores, queda de OVNIs, entre outros fenômenos, jamais explicados, mas muito explorados.

Brasil além do ET Bilu e do ET de Varginha

Como vimos acima, as regiões em que há mais avistamentos de OVNIs têm em comum o fato de serem inóspitas e em meio à natureza. E por aqui, no Brasil, temos muitas destas. Em um país em que a contação de histórias orais e o misticismo são frequentes, não é de se estranhar que haja uma proliferação de relatos misteriosos envolvendo aparição de seres extraterrestres e naves espaciais.

Ainda nos anos 1990, uma cidade já havia captado a oportunidade de fomentar o turismo ufológico: Barra do Garças, no Mato Grosso. Em 1996, uma noite marcou a população após uma luz intensa sobrevoar a cidade aos olhos de todos. A visita deste OVNI foi o reinício de uma série de narrativas sobre a aparição de objetos voadores não-identificados na cidade, já que relatos do tipo remontam às narrativas dos indígenas da região.

Diante daquele surgimento, um vereador chamado Valdon Varjão propôs a criação de um discoporto. Para alguns loucura, para outros uma brincadeira, a “pista de pouso” para OVNIs teve o intuito de atrair turistas para o Parque Estadual da Serra Azul que tem cachoeiras, trilhas, grutas com pinturas rupestres e toda aquela natureza exuberante a qual os ETs não resistem conhecer.

A inovação deu resultado, com a cidade recebendo viajantes e pesquisadores de todo o mundo nos anos subsequentes ao episódio. Hoje, após um incêndio que queimou grande parte da vegetação e manteve o parque fechado por cerca de cinco anos, o espaço funciona em caráter limitado, com restrição do número de visitantes com o intuito de preservar a riqueza natural da região.

Outra cidade pioneira quando o tema é turismo ufológico é Peruíbe, no litoral paulista. Por conta do acúmulo de relatos de aparições de criaturas de outros planetas, objetos voadores e até de abduções, a administração local decidiu, na última década, incentivar a exploração do tema para atrair viajantes, unindo o lado metafísico da visita litorânea às belezas naturais da cidade.

Assim, os turistas e mesmo os moradores podem realizar uma excursão pelas paisagens em que tenham ocorrido episódios do tipo. Estão no roteiro locais como: Barra do Una, Ruínas do Abarebebê, Guaraú, Perequê, Bairro São José, Costão e Pedra de Serpente.

As histórias místicas estão mais ligadas às áreas das reservas de preservação ambiental da cidade: a Estação Ecológica Juréia Itatins e o Parque Estadual da Serra do Mar. Até mesmo a Ilha de Queimada Grande, também conhecida como ilha das cobras, tem sua dose de misticismo. Há quem acredita que as jararacas – que só vivem ali – guardem alguma espécie de passagem entre mundos. Em comum, todos esses endereços são cenários de relatos de marinheiros, pescadores e banhistas que dizem ter observados objetos voadores e luzes sob ou sobre as águas.

Varginha: história da aparição do ET

Se você é um turista mais convencional e gosta de apostar no roteiro clássico, a Paris ou Roma do turismo ufológico, por aqui é mesmo Varginha. Há 25 anos, três garotas afirmaram ter visto uma criatura misteriosa, oleosa e elástica, com três protuberâncias na cabeça em um terreno da cidade. O relato rodou o mundo e o episódio que aconteceu no sul de Minas Gerais tornou-se um dos fatos mais conhecidos e discutidos na ufologia mundial.

Já naquela época, Varginha passou a receber atenção dos turistas mais interessados nas vivências ligadas a outros planos. Após um período de queda nas visitas, o fomento ao turismo ufológico reviveu recentemente. A prefeitura tem trabalhado para adquirir o terreno onde o suposto contato com o famigerado ET de Varginha ocorreu, com o intuito de preservá-lo e interligá-lo a outras atrações.

A ideia é fazer uma rota que envolva também esculturas de aliens (uma destas já existe há anos em Varginha) e o Memorial do ET. Essa instalação, em formato de nave, começou a ser construída há mais de uma década, mas ainda está em fase de finalização. Haverá no espaço painéis e monitores interativos para contar a história da ufologia e, claro, do extraterrestre mais famoso do Brasil – depois do ET Bilu.

Ingá, Paraíba

Esta cidade, distante cerca de 50 quilômetros de Campina Grande, tem recebido cada vez mais turistas e pesquisadores por conta da Pedra do Ingá, o primeiro monumento arqueológico tombado no Brasil. Na formação, estão pinturas e inscrições pré-históricas que sugerem figuras astronômica. A autoria, se indígena ou fenícia, é inconclusiva até hoje. Muitos acreditam que as imagens têm relação com ETs.

Chapada Diamantina, Bahia

Uma das principais regiões de ecoturismo no país. Na região, há pinturas rupestres que sugerem o avistamento de OVNIs e são muitos os relatos misteriosos de episódios passados entre suas grutas, rios, lagoas e trilhas.

Alto Paraíso, Goiás

A cidade da Chapada dos Veadeiros com fama de metafísica. Logo na entrada, há uma espécie de portal em formato de nave espacial e há, inclusive, hospedagens temáticas com decoração ufológica. Essa energia supostamente difundida na região faz com que a Chapada dos Veadeiros seja a casa de diversos templos e comunidades que buscam realizações místicas e espirituais.

Chapada dos Guimarães, Mato Grosso

Há quem acredite que por lá esteja um portal de passagem de ondas cósmicas. É na Chapada dos Guimarães que está o Morro de São Jerônimo, mirante com 850 metros de altitude e solo achatado – que, segundo a crença de alguns, funcionaria como uma espécie de “discoporto” local.

São Thomé das Letras, Minas Gerais

É o nome de cidade que surge primeiro na cabeça quando pensamos em ambientes místicos e misteriosos no Brasil. A região, que está entre montanhas que chegam a quase 1.500 metros de altitude, convive com muitos relatos de acontecimentos estranhos e avistamentos ufológicos. Suas grutas e uma pirâmide inacabada são os lugares favoritos dos turistas que buscam enxergar além do que conhecemos.

Itaara, Rio Grande do Sul

É onde está o primeiro museu sobre ufologia da América Latina, onde já passaram mais de 650 mil visitantes de todo o mundo. O intuito Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo é difundir e conservar o patrimônio cultural material e imaterial da ufologia brasileira e global. Está próximo da universitária Santa Maria.

Além dessas, ainda há muitas outras cidades do Brasil que recebem turistas em busca de sinais de que há mais do que nós mesmos neste universo. O interesse dos brasileiros pelo assunto é tão grande que, quando a Lei de Acesso à Informação foi instituída, surgiram inúmeros pedidos por documentações relacionadas a OVNIs.

O portal da Força Área Brasileira, inclusive, mantém informações sobre o tema na sua seção de perguntas frequentes, onde indica que atualmente todos os arquivos, entre 1952 e 2014, estão no Arquivo Nacional, disponíveis como domínio público.

Estados Unidos e ETs: uma longa relação

Mais do que locais ermos, em meio à natureza, com cavernas, rios, grutas e cânions, os extraterrestres parecem ter outro destino favorito. Um muito buscado também pelos terráqueos: os Estados Unidos. Afinal, foram centenas de visitas dessas criaturas aos ianques ao longo das últimas décadas. De modo que o país, junto da Austrália e do Chile, forma uma espécie de trindade principal entre os destinos ufológicos mais buscados.

Talvez o fenômeno mais famoso ocorrido nos EUA tenha sido em Roswell, no Novo México, em 1947. Durante uma noite de tempestade, um fazendeiro disse ter viso luzes estranhas e, no dia seguinte, havia no seu rancho destroços e um suposto disco voador. Durante as décadas posteriores, as teorias da conspiração sobre o episódio foram muitas. Em 1994, finalmente, a Força Aérea afirmou em relatório que a nave não passava de um balão de vigilância de testes nucleares.

Os “corpos” dos extraterrestres supostamente encontrados no local, portanto, não passavam de bonecos. Houve até um documentário, veiculado pela Fox Network em 1995, batizado “Autópsia de um extraterrestre: realidade ou fantasia?”, em que é feita a autopsia em um desses seres que diziam ter sido recolhidos em Roswell. Material que hoje, de maneira consensual, é considerado uma fraude. (Vocês lembram do auê que foi ver essa reportagem no Fantástico?)

Verdade ou mentira, conspiração ou realidade, fato é que Roswell, nos dias de hoje, tem grande parte do seu faturamento atrelado ao turismo ufológico. Lá está o Centro de Pesquisas e Museu Internacional de OVNIs e a cidade é recheada de referências aos seres interplanetários. Eles estão nas lojas, restaurantes, escolas, bibliotecas e exposições e fazem da cidade – onde também há um evento anual sobre ufologia – talvez o maior destino desta seara no mundo.

Outra região predileta dos ufólogos é a mítica Área 51, tema de tantos livros, músicas e filmes, em narrativas sempre recheada de mistérios e extraterrestres. Trata-se de uma base ultrassecreta da Força Aérea dos EUA em Nevada. Do pouco que se sabe sobre seu objetivo, destacam-se alguns testes bélicos durante a Guerra Fria. Todo esse segredo alimenta teorias da conspiração de todos os tipos e atrai muitos curiosos.

É claro que é impossível ingressar no local, mas os arredores satisfazem parte da curiosidade. A estrada que leva os viajantes até o mais próximo possível da Área 51, por exemplo, é batizada de “The Extraterrestrial Highway” e está repleta de decorações com motivos ufológicos. Pelo caminho e nas cidades próximas ficam diversas lojas de souvenires, bares e restaurantes com cardápios inspirados nestas outras formas de vida.

Há, inclusive, empresas especializadas em tours na região para observação de OVNIs, em excursões que podem durar horas durante a noite desértica de Nevada. Muitos desses passeios saem de Las Vegas, que está a uma viagem de carro de aproximadamente duas horas da Área 51 ou das cidades mais próximas da base militar.

Outros planetas

Ou melhor… outros países que também recebem turistas interessados em ufologia são:

Turismo ufológico na Inglaterra

Os círculos “desenhados” em plantações de cereais no país chamam a atenção da comunidade de ufologia na Inglaterra. Normalmente, essas manifestações são detalhadas e complexas, sugerindo alguma manipulação mais inteligente do que um simples vento circular (uma das prováveis explicações físicas do fenômeno). Ainda mais quando falamos em círculos de centenas de metros.

Esse tipo de episódio já foi relatado em diversas localidades ao redor do mundo, mas no sul da Inglaterra a prevalência é maior. São centenas todos os anos. Ajuda na narrativa mística os relatos de aparições de OVNIs no Condado de Wiltshire, onde, inclusive, estão os círculos de pedras Stonehenge e Avebury, que por si só já são fontes inesgotáveis de mistérios. São muitos os turistas que vão ao país para ver de perto esses círculos e as formações rochosas pré-históricas que estão na região.

Rússia: teria o comunismo vindo de outro planeta?

Em um país de dimensões continentais, com grandes extensões de terra pouco habitadas, na Rússia, os relatos de acontecimentos estranhos são frequentes. Muitos vão ao Triângulo M, por exemplo, nos Montes Urais (cordilheira que divide as zonas asiática e europeia do país) por acreditarem que há vida extraterrestre. Isso porque há muitos relatos de distorções das leis da física e de interferências na região, como a interrupção do funcionamento de relógios.

Um episódio registrado em 1983 indicou a presença de uma forte luminosidade sobre as florestas. Na sequência, um geólogo encontrou um círculo na neve de mais de 60 metros. Os relatos dos camponeses habitantes do entorno do Triângulo M que trazem acontecimentos misteriosos e objetos brilhantes no céu remontam, inclusive, ao início do século XX. Caso resolva dar uma olhada na região, não se esqueça de levar uma… blusa!